segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Auxílio mútuo

Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto possível contra os golpes do ar gelado e de intensa tempestade, quando foram surpreendidos por uma criança semi-morta na estrada, ao sabor da ventania de inverno.   

Um deles fixou o singular achado e exclamou, irritadiço:

- Não perderei tempo! A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos à frente.

O outro, porém, mais piedoso, considerou:

- Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade.

- Não posso, disse o companheiro endurecido. Sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Precisamos chegar à aldeia próxima sem perda de minutos. E avançou para adiante em largas passadas.

O viajante de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos, colando-o paternalmente ao próprio peito, e aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora mais lentamente.

A chuva gelada caiu metódica pela noite adentro, mas ele, amparando o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedaria do povoado que buscava.

Com enorme surpresa, porém, não encontrou o colega que havia seguido na frente.

Somente no dia seguinte, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado sem vida numa vala do caminho alagado.

Seguindo a pressa e a sós, com a idéia egoísta de preservar-se, não resistiu a onda de frio que se fizera violenta, e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento.

Enquanto que o companheiro, recebendo em troca o suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre.

Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo. Ajudando o menino abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços do caminho, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.


"O auxílio ao próximo sempre será o seu melhor investimento."

Alex Cardoso de Melo
 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Desatando nós

Em uma reunião de pais, numa escola de periferia, a diretora falava sobre o apoio que devia ser dado aos filhos e pedia para que os pais se esforçassem em se fazer presentes, mesmo trabalhando fora.   

Então, um pai se levantou e explicou, com seu jeito humilde, que ele não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo, durante a semana.

Quando saía para trabalhar, era muito cedo e o filho ainda estava dormindo. Quando voltava, o garoto já tinha ido para a cama.

Mas ele continuou dizendo que todas as noites ia ao quarto onde o filho dormia, dava um beijo nele e, para que o menino soubesse da sua presença, dava um nó na ponta do lençol.

Isso acontecia, religiosamente, todas as noites.

Quando o filho acordava e via o nó, sabia que o pai tinha estado ali.

O nó era o meio de comunicação entre eles.

A diretora ficou emocionada com aquela história singela e constatou, surpresa, que o filho daquele homem era um dos melhores alunos da escola.

Essa história nos faz refletir sobre as muitas maneiras pelas quais podemos demonstrar carinho e amor, nos fazer presentes, nos comunicar com aqueles que amamos, mas que nem sempre podemos estar perto.

Aquele pai encontrou a sua maneira simples, mas eficiente.

E o mais importante é que o filho percebia, através do nó afetivo, o que o pai estava lhe dizendo.

E você? Já deu algum "nó no lençol" de quem você quer demonstrar carinho?

Um nó de afeto mesmo na ausência?

Você pode encontrar a sua própria maneira de garantir a sua presença.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

TUDO TEM SEU TEMPO

O tempo é mágico, cura feridas, amortiza as dores, traz conhecimento e sabedoria, fortalece o que sentimos, enterra o que deixamos de sentir e traz as verdades por que tanto ansiamos. Um dos maiores favores que podemos fazer a nós mesmos é saber aguardar a passagem do tempo - enquanto agimos, jamais passivamente -, pois sempre haveremos de colher de acordo com o que plantamos, e na hora certa.
Há tempo para falar. Para expressarmos nossos sentimentos a quem amamos, colocarmos nossos pontos de vista, ensinarmos nossos filhos, discutirmos nossos relacionamentos. Acumular sentimentos dentro de nós o tempo todo adoecerá nossa alma e nosso corpo. É necessário dizermos o que e como nos sentimos, com as pessoas certas, nos momentos apropriados. Temos sempre muito a dizer, por menos que acreditemos nisso, pois somos únicos e especiais à nossa própria maneira.
Há tempo para silenciar. Encontrarmos os momentos adequados para nos expressarmos vai fazer toda a diferença em nossas vidas. É preciso que o outro esteja aberto a receber o que temos a oferecer; caso contrário, estaremos fadados a ecoar no vazio inútil do qual ninguém sai fortalecido, muito pelo contrário. No calor das emoções, por exemplo, tendemos a proferir palavras ofensivas, rancorosas e, muitas vezes, não correspondentes às nossas verdades. Nada disso vale a pena nesses momentos, apenas o silêncio.
Há tempo para plantar. É preciso cultivar e cativar as pessoas que nos amam verdadeiramente, dia após dia, pois com elas poderemos contar quando precisarmos de mãos amigas nos afastando dos fantasmas de dentro de nós. Discernir entre quem precisa do que somos e quem apenas precisa nos usar em proveito próprio nos ajudará a caminhar mais tranquilamente por caminhos mais transparentes. Somente assim conseguiremos preencher os vazios de nossa essência, de forma a que não nos percamos na solidão da amargura e do arrependimento.
Há tempo para colher. Ninguém fugirá ao enfrentamento das conseqüências de tudo o que fez ao longo do caminho. Todos colheremos exatamente o que plantamos. Todos estaremos rodeados pelo tipo de gente com quem priorizamos conviver enquanto caminhávamos. Todos nos encontraremos no lugar que fizemos por merecer. Diariamente, temos de escolher, dentre as muitas opções que se nos descortinam, e essas escolhas determinarão o tipo de vida que viveremos e que nós mesmos escolhemos viver. Vale lembrar que, como diz o ditado, quem semeia ventos colhe tempestades. Semeie paz.
Há tempo para ser. Temos que ser crianças, adolescentes, jovens e idosos na idade certa. Não adianta querer correr contra o tempo ou lamentar-se sem parar pelo que não fizemos, não dissemos. Vestir-se tal qual um adolescente, quando na meia idade, por exemplo, partindo em busca de um tempo perdido que não volta mais, não trará felicidade, tampouco compensará o que se perdeu pelo caminho. Certas coisas podem ser obtidas, não importando a idade que se tenha, porém, algumas delas terão que ser esquecidas - é necessário saber do que abrir mão para sempre.
Há tempo para sofrer. Inevitavelmente, passaremos por muitos momentos de dor, decepções, perdas e sofrimentos enquanto construímos nossos caminhos. Teremos que nos permitir sofrer a dor de nossas angústias, o frio das escuridões que nos rodeiam, enfrentando os dissabores desnudados de simulacros, para que possamos recolher nossos cacos e nos reerguer com dignidade, a cada amanhecer. Estaremos cada vez mais fortes e certos de nossas verdades após os reveses que avassalam, mas não matam. Enquanto houver vida, nossos sonhos nos alimentarão.
Há tempo para sorrir. Ninguém será feliz o tempo todo, sobretudo porque nossa felicidade é uma meta a ser buscada continuamente, portanto, não deverá nunca estar completa. Do contrário, estacionaríamos no tédio, pois nada mais teríamos a alcançar em nossas vidas. Somos felizes exatamente enquanto buscamos satisfazer nossas necessidades e sonhos; somos felizes enquanto o raio de nossas boas ações alcançam várias pessoas. Porque a felicidade é contagiosa e se espalha rapidamente. Há tempo para se entregar. Não poderemos nos doar o tempo todo, incondicionalmente, ou nos perderemos de nós mesmos e daquilo que nos define. É preciso saber o que e quem merece nossa entrega, de forma a que nos lancemos a relacionamentos que nos tornem melhores e mais humanos. Sempre precisaremos estar atentos ao nosso bem estar, pois dele dependerá estarmos felizes em nossos compartilhamentos de vidas. Certos momentos nos pedirão distanciamento do outro, pois estaremos bens e completos sozinhos, nos preparando para receber novamente alguém em nossas vidas, na hora certa. Unir-se deve implicar sempre ganhos e soma, jamais perdas ou subtração.
Há tempo para adeus. É preciso despedir-se de pessoas, de coisas, de momentos, de sentimentos. Veremos muitos que amamos partindo, para outra cidade, para novas amizades, novos amores, para outro país, ou mesmo partindo de sua existência aqui na terra. Teremos que estar preparados para as separações, sempre acreditando em novos recomeços e guardando, em nossa memória, momentos especiais junto àqueles que nos são importantes - tais lembranças ajudarão a acalmar nosso coração em meio à dor da saudade, bem como também estaremos presentes e perpetuados nas memórias de quem nos amou, quando partirmos.
Como se vê, o tempo é o mestre de nossas vidas, pois nos disponibiliza infinitas possibilidades de nos aprimorarmos e de nos reinventarmos, aprendendo com os erros e crescendo com os acertos. Embora ele também seja impiedoso e não nos poupe das inevitáveis colheitas, por mais dolorosas que possam ser, possui uma capacidade consoladora e reconfortante que nos é deveras útil na sobrevivência após os maremotos emocionais. Caso estejamos agindo de acordo com propósitos honestos, sem atropelar a dignidade alheia, e nos cercando de pessoas com amor recíproco e sincero, o tempo sempre correrá em nosso favor, tornando-nos, dia após dia, mais sábios, verdadeiros e prontos para buscar a felicidade, cheios de esperança e de amor para dar e receber.



quarta-feira, 11 de novembro de 2015

CUIDE DOS SEUS ACHADOS E APRENDA COM OS PERDIDOS

"Valorizar os ganhos e aprender com as perdas, no sentido de reconstruirmos o nosso caminho, mesmo que às duras penas, eternizará em nossas lembranças tudo aquilo que deverá ser o alicerce de nossos pensamentos e ações enquanto estivermos dispostos a encontrar a felicidade."

Viver implica inevitáveis perdas e ganhos, tendo ambos uma importância extrema ao nosso amadurecimento pessoal. No entanto, é muito difícil aprendermos a lidar com os aspectos negativos e que incomodam o nosso caminho, pois eles parecem se fixar em nossas memórias de forma indelével, perseguindo-nos enquanto vivermos. E, enquanto não conseguirmos digerir os obstáculos com lucidez e maturidade, não estaremos preparados para sorver todo o prazer inerente aos aspectos positivos que nos circundam diariamente.
Teimamos em nos prender ao que se foi, ao que já não tem mais razão de ser, ao que poderia ter sido e, enquanto isso, a vida passa lá fora, com todas as novas oportunidades que sempre traz consigo, muitas delas nos estendendo as mãos inutilmente. Sem que nos desapeguemos daquilo que já cheira a mofo, é impossível que abracemos o novinho em folha. Caso fiquemos lamentando aquilo que não deu certo, não teremos forças para fazer algo dar certo. Lágrimas excessivas acabam cegando nossos sentidos, enganando nossa percepção de mundo, retirando todo o colorido da vida de nosso olhar.
Existem tragédias cujas consequências são por demais dolorosas e inevitavelmente nos marcarão tão fundo, que jamais seremos os mesmos após o ocorrido, como, por exemplo, a perda de um filho, um acidente que nos limita fisicamente, um fenômeno natural que destrói tudo o que lutamos para obter. São os divisores de água que demarcam o antes e o depois em nossas vidas, são os alarmes necessários a que acordemos frente à finitude da vida, à pequenez de cada um de nós diante da força do universo, à insensatez do acúmulo de bens em desfavor do sentir e do compartilhar.

Para que possamos passar por tudo o que a vida nos reserva, no melhor e no pior, sem nos perdermos em meio a uma noite eterna, vale nos prepararmos enquanto há luz do dia. Nos momentos de calmaria, é preciso aproveitar os momentos, desfrutando-os junto com amigos e familiares, cultivando nossos relacionamentos com as pessoas que serão nosso arrimo, nosso porto-seguro, sempre que precisarmos. Vale acolhermos com amabilidade a todos que convivem conosco, pois a ajuda muitas vezes vem exatamente de quem menos esperávamos, de alguém em quem nem prestávamos atenção.
Temos que nos permitir sermos eternos aprendizes, a estarmos inacabados, em formação, abertos à reorganização dos pensamentos, à desestruturação de paradigmas, ao enfrentamento de verdades. É necessário criar uma consciência elástica, flexível frente às mudanças que abalarão tudo o que pensávamos saber a respeito das coisas, das pessoas, dos sentimentos. Compreender a própria finitude e a certeza de que nada nesta vida é certo nos ajudará a atravessarmos a nossa lida com mais sobriedade, segurança e capacidade de nos reinventarmos a cada abalo sísmico de nossos sentidos.
Valorizar os ganhos e aprender com as perdas, no sentido de reconstruirmos o nosso caminho, mesmo que às duras penas, eternizará em nossas lembranças tudo aquilo que deverá ser o alicerce de nossos pensamentos e ações enquanto estivermos dispostos a encontrar a felicidade. E sabermos que essa felicidade é um caminho de busca nem sempre prazeroso determinará, enfim, a qualidade de nossa vida junto de quem nos provoca sorrisos sinceros, pois, tendo conhecido a escuridão, os caminhos de luz serão ainda mais mágicos e especiais.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

AMOR PRÓPRIO


Ontem encarei o espelho, me acomodei na poltrona de braços largos e fiquei ali namorando os meus detalhes. O tamanho dos meus olhos, o formato da minha boca, a minha cintura não tão fina e até as pontas duplas do meu cabelo. Fiquei ali por horas, me amando. Repetindo sem cessar: Moça, como você é linda. Por favor, não confunda o meu amor próprio com o egocentrismo. Não, antes de conhecer a minha história. Eu passei a minha vida inteira vestida de patinho feio, fugindo do espelho e o tratando como o meu pior inimigo. Eu o odiava por me mostrar tudo o que eu não queria ver. A celulite espalhada por toda a minha bunda e a longa distância entre a minha nuca e o meu glúteo. As estrias nos seios. A barriga nada chapada. O cabelo ressecado. As espinhas no queixo. As três linhas desenhadas na minha testa. O braço de maria-mole. Toda vez que ele escancarava minuciosamente tudo o que eu lutava para esquecer, discutíamos por horas. Eu chorava, desabafava e o culpava por tudo. Pelos relacionamentos fracassados, pelos foras que recebi e até pelos olhares que nunca consegui atrair. Eu não aceitava minhas imperfeições. Elas gritavam o tempo inteiro aqui dentro, me cegavam e não me deixavam reparar no belo par de pernas que tenho. Nem no pequeno nariz que mora no centro do meu rosto ou na mulher inteligente, determinada e engraçada que sou – capaz de seduzir qualquer pessoa. A cada término, despedida e batida de porta eu me detestava mais. Sentia-me rejeitada, feia e incapaz de despertar qualquer interesse num homem. Já pedinchei muito amor, supliquei cafuné, me humilhei por elogios simplórios e me odiei por não ser ‘bonita’ – loira, magra e dentes branquíssimos igual as bailarinas do Faustão . Deixei inúmeras vezes o meu amor-próprio de lado para manter alguém do meu lado, e todas às vezes saí com o ego ainda mais ferido e com o coração na mão. Foi numa dessas decepções, com o rímel preto escorrendo pelas bochechas e o peito sangrando que decidi mudar. Aos poucos fui mudando. De dentro para fora. Vesti a minha alma de amor, expulsei o rancor do meu peito e propus paz ao espelho. Hoje eu não me maltrato mais. Eu aprendi a amar os meus defeitos, o meu cabelo bagunçado, o sorriso torto, as olheiras profundas, a meia e o chinelo. Os dois quilos a mais, as falhas na sobrancelha e a coluna levemente curvada. Parei de me cobrar tanto e comecei a cobrar mais dos outros. Quem gosta de verdade, fica com você de vestido e pijama. Com defeitos e qualidades. Com ou sem maquiagem. Hoje o meu peito sorri, quando vê a mulher linda que reflete no espelho, porque a alma reflete aquilo que o coração guarda. E o meu coração guarda amor. Amor próprio.

Escrito por Kauane Mello e Kimbelly Gomes – Via Suspiros & Desatinos

domingo, 8 de novembro de 2015

MUDANÇA

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena! 


Clarisse Lispector