segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Nas despedidas, aprendi a dizer "Até logo!"

Desapegar faz parte do entender de que ninguém é dono de ninguém, que cada um tem de seguir seu caminho, juntos ou não. Foi o destino quem decidiu que nesse momento a vida segue. As barreiras foram mais fortes. A despedida falou mais alto. Mas faz parte da vida os "olá" e os "até logo!"
Se despedir não é fácil. Nunca foi e nunca vai ser. Pelo menos para mim não, eu nunca soube lidar. Eu que sempre fui pela vida forçada a me despedir, tive que compreender que não estará mais próximo a mim aquela pessoa de quem eu tanto me cativei.
Eu tentei gravar com meus dedos cada curva e sinais que o corpo dele tinha, para de alguma forma arquivá-lo dentro de mim, mas só isso não foi o bastante. Enquanto ele dormia bonito, eu o admirava como criança quando avista o seu super herói. Como é engraçado o meu benzinho, sabe?! Como foi ruim dizer "tchau!"
Posso recordar o primeiro dia em que o vi, posso recordar cada sorriso tímido que ele dava ao rir de alguma bobagem que me dizia. Que sorriso lindo! Que olhos lindos! Tenho certeza absoluta, que mesmo que eu perdesse a memória, eu me apaixonaria por eles mil e uma vez.
Não é fácil conhecer um alguém, conviver com esse alguém, criar emoções e momentos e como um corte umbilical, ter que se ver despedindo dessa pessoa. Eu tive vontade de permanecer ali o abraçando por toda minha vida. Mas a vida, essa moleca, sempre nos prepara situações como essa, em que o nó na garganta trava as palavras, parece que as lágrimas vão nos afogar e a vista já embaçada, a vista por reflexo a pessoa indo embora.
Eu quis gritar com todas as minhas forças "FICA", mas me calei por compreender as circunstâncias que a vida tem.
Quisera eu ter o poder de controlar as coisas, mas graças a Deus é Ele o dono de todas as coisas, Ele bem sabe o que cada qual deve passar, vivenciar, enfrentar. Você pode esperar... Vai ter sempre um momento da sua vida que você vai desejar se desligar de tudo. Vai haver um momento que seu coração vai vibrar de tanta alegria.
Ninguém passa por nossas vidas por acaso, cabe nós mesmos compreendermos ou não essa chegada, essa partida. Deus sabe o que cada um precisa quando cruza as vidas.
E por não termos o controle, é que com o passar do tempo as coisas vão se acalmando, os dias, os anos, os acontecimentos vai dando novos rumos as vidas que um dia se cruzaram. A vida continua. As vidas são distintas. Ele de um lado e eu do outro.
E sabe por quê a gente sente tanta saudade de um alguém? Porque essa pessoa conseguiu tocar o mais intimo do nosso ser, do nosso sentimento. Ela nos torna especial diante de seus olhos, nos trata como ninguém jamais tratou. Há um encantamento.
A pessoa passa e deixa um pouco de si, mas também leva um pouco de nós. O que fazer com o que ficou? Só o tempo irá dizer. Como Saint Exupéry disse no livro O Pequeno Príncipe, "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." E é verdade! Não tem como apagar o que aconteceu, só mesmo armazenar, se assim ambos não conseguiram concilhar uma reciprocidade.
Não importa o tempo que a pessoa permaneceu junto, mas sim a intensidade. Não há regras quando se trata de sentimentos.
Desapegar faz parte do entender de que ninguém é dono de ninguém, que cada um tem de seguir seu caminho, juntos ou não. Foi o destino quem decidiu que nesse momento a vida segue. As barreiras foram mais fortes. A despedida falou mais alto. Mas faz parte da vida os "olá" e os "até logo!"
Uma certa vez conversando com Deus eu somente pude agradecer por ter conhecido um alguém tão maravilhoso, um alguém que pode me afetar tanto positivamente. Que trouxe a primavera no inverno. Que me proporcionou momentos muito especias. Ele vai, e junto com ele um pedaço de mim. Sim, porque ele se fez parte da minha vida. Vá! Vai com Deus. Obrigada por tudo!
Até logo! Volte sempre!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Felicidade Silenciosa

Penso que a felicidade silenciosa é aquela mais egoísta, sabe? Alguns momentos de contemplação da vida que merecem ser divididos com poucos, ao invés de serem lançados no vento para muitos. A felicidade silenciosa é como um bem valioso – você não sai desfilando com ela pendurada no pescoço. Você guarda numa caixa de jóias dentro do coração. Para estes casos de felicidade silenciosa, não precisa de registro oficial. Quando eu ficar bem velhinha, quero lembrar-me de como eu me senti, e não de quantas fotos tirei. E para isso a minha atenção tem que ser dedicada.

“Felicidade é discreta, silenciosa e frágil, como a bolha de sabão. Vai-se muito rápido, mas sempre se podem assoprar outras.” Rubem Alves
Certa vez viajei para um paraíso na costa da Austrália, e após alguns dias sem dar notícias, uma amiga me escreveu preocupada: “E aí, não está gostando da viagem?” – não entendendo a pergunta, respondi prontamente, “Poxa, é claro que estou. Da onde você tirou essa ideia?”. Ela então, concluiu sua lógica – “ah, é que você não postou nada a respeito, achei que não estivesse se divertindo”. A lógica dela, que é a lógica da maioria (incluindo a minha), me fez pensar. Estaríamos tão acostumados a propagar nossa alegria, que desaprendemos a reconhecer a felicidade silenciosa?
Felicidade silenciosa. É assim que eu chamo aqueles momentos da vida em que não faz a menor diferença se o celular tem bateria ou não. Sabe? A turma certa, a beira de praia perfeita, o boteco no meio da semana, o sítio com os irmãos, os lençóis cheios de delícias, o livro novo, o dia de ser boa companhia pra si mesma(o). Momentos onde a beleza de ser e estar é tão sublime, que ninguém fora destes pequenos universos precisa ficar sabendo. Talvez ela aconteça por medo de que os holofotes ofusquem quem enxerga estas maravilhas. Ou ainda por conta de quem teme o olho gordo. A minha teoria reina na simplicidade da distração. Felicidade silenciosa ocorre por pura distração. Algo do tipo, “opa, esqueci de viver o online pros outros, enquanto vivia o offline pra mim”.
“Ora, ora, não seja hipócrita!”. Sim. É claro que as fotos da minha viagem estão no meu perfil, obvio que eu faço check-in em lugares bacanas e divido meus momentos de emoção com minha audiência preferida em inúmeras ocasiões. Sem dúvidas sou uma daquelas pessoas que gosta de compartilhar onde foi, o que viu, como viveu. Todo mundo é um pouco assim. Entretanto, verdade também é que nada me distrai mais que a felicidade silenciosa. Eu adoro me perder em ruas que desconheço mundo afora e memorizar os cheiros e as sensações. Eu deixo o celular fora do quarto pra me perder nas curvas de alguém que me tira a atenção. Amo e prefiro contar minhas aventuras pessoalmente, pra aqueles que gostam de me ouvir vendo a emoção nos meus olhos e não no brilho de uma tela. Quando não me encontram no celular, quem me conhece já sabe e canta a pedra “está por aí aprontando alegria e sendo feliz!”. E estão certos.
Felicidade silenciosa para os outros, mas que clama dentro da alma. Eu sei que quando a gente está feliz, quer gritar essa condição aos quatro cantos do mundo e que nos dias de hoje a tarefa de fazê-lo realmente é possível. Preste atenção, entretanto, que a felicidade silenciosa se basta em existir. Sobrevive dos sussurros de amor e juras menos dramáticas. É propagado em grupos menores, entre abraços que falam mais que palavras. Não precisa de conexão wi-fi. Não é transmitida em um tweet e certamente não tem filtros. Ela é pura. Sincera e por vezes tão rara. Então não se deixe distrair pelos gritos de euforia no mainstream da felicidade pública. Preste atenção na felicidade silenciosa. O resto é só barulho.

Antônia Macchi


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Recomeçar


Dar o primeiro passo para começar mais uma vez não é fácil. É querer se reerguer e estar disposto ao novo. Levantar depois da tempestade, é para quem se impõe diante da dor, do desassossego, enquanto que, os menos capazes, nem sequer tentarão dar um passo adiante, apenas lamentarão os seus desesperos.
O recomeço é o caminho árduo para aqueles que perderam tudo ou parte de suas vidas. Não é nada fácil superar o choro, a tristeza. Não é fácil enxugar as lágrimas, tentar um sorriso com vontade e seguir adiante. Não é fácil deixar para trás, se as memórias insistem caminhar com o presente. Nada é fácil, mas se faz possível quando decidimos não perder mais tempo com o que deu errado, nos machucou ou nos tirou o chão.
Devemos insistir que precisamos ser melhores, mais amados, mais acreditados e mais respeitados, mesmo que seja doído demais deixar para trás. A vontade de vencer os problemas, a dignidade e o sofrimento nos ensinam lições de vida. O recomeço não está apenas no levantar e seguir, não! O recomeço está na mudança de dentro para fora, quando o coração implora menos desatino e a alma grita por libertação.
Recomeçar implica em mudança, é um refletir libertador em tentar uma vida melhor. Recomeçar é ter olhar crítico sobre o passado e ir. É olhar com liberdade e dignidade o que partiu deixando saudade ou não. O passado, segue com nós, para nos lembrarmos dos sucessos e derrotas; do que foi bom ou não, e o que não devia ser...
Cometemos enganos, nos machucamos, mas não devemos permitir que, as lembranças de um passado marcante, bem resolvido ou de sofreguidão seja um martírio. Devemos recomeçar para não ficarmos trancados no quarto escuro da escravidão, em que, as limitações e os insucessos, impedem a vontade de seguirmos.
Os recomeços felizes também existem: ir morar sozinha, o novo emprego, a casa nova, mudar de cidade, ir para outro país... Recomeços felizes exigem de nós: disciplina, dedicação, controle e discernimento. Recomeçar a vida é dar bom dia para mais uma perspectiva, é viver a novidade de um novo caminho. Não podemos nos entregar a miséria de permanecermos na dor, na apatia, na tristeza, pois, é preciso audácia para viver a vida, e vontade de querer um mundo melhor todos os dias.
Ninguém deve aceitar a derrota como a última opção, mas que seja um impulso para se levantar e mudar, mais uma vez, o script das próximas cenas da vida. Que recomeçamos quantas vezes forem necessárias. E, a cada tentativa, que vou ser mais feliz desta vez, seja uma promessa sem cair na tentação da frustração.
Que possamos comungar nossos recomeços diários, quando abrimos nossos olhos pela manhã e, o sol lá fora, tímido ou não, possa iluminar nossa existência, mesmo que os nossos corações estejam chorando desamores, dores, insucessos e insensatezes.
Que possamos ter uma vida cheios da vontade de sermos felizes, porque recomeçamos mais uma vez, todos os dias.

Simone Guerra

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Auxílio mútuo

Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto possível contra os golpes do ar gelado e de intensa tempestade, quando foram surpreendidos por uma criança semi-morta na estrada, ao sabor da ventania de inverno.   

Um deles fixou o singular achado e exclamou, irritadiço:

- Não perderei tempo! A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos à frente.

O outro, porém, mais piedoso, considerou:

- Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade.

- Não posso, disse o companheiro endurecido. Sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Precisamos chegar à aldeia próxima sem perda de minutos. E avançou para adiante em largas passadas.

O viajante de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos, colando-o paternalmente ao próprio peito, e aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora mais lentamente.

A chuva gelada caiu metódica pela noite adentro, mas ele, amparando o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedaria do povoado que buscava.

Com enorme surpresa, porém, não encontrou o colega que havia seguido na frente.

Somente no dia seguinte, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado sem vida numa vala do caminho alagado.

Seguindo a pressa e a sós, com a idéia egoísta de preservar-se, não resistiu a onda de frio que se fizera violenta, e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento.

Enquanto que o companheiro, recebendo em troca o suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre.

Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo. Ajudando o menino abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços do caminho, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.


"O auxílio ao próximo sempre será o seu melhor investimento."

Alex Cardoso de Melo
 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Desatando nós

Em uma reunião de pais, numa escola de periferia, a diretora falava sobre o apoio que devia ser dado aos filhos e pedia para que os pais se esforçassem em se fazer presentes, mesmo trabalhando fora.   

Então, um pai se levantou e explicou, com seu jeito humilde, que ele não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo, durante a semana.

Quando saía para trabalhar, era muito cedo e o filho ainda estava dormindo. Quando voltava, o garoto já tinha ido para a cama.

Mas ele continuou dizendo que todas as noites ia ao quarto onde o filho dormia, dava um beijo nele e, para que o menino soubesse da sua presença, dava um nó na ponta do lençol.

Isso acontecia, religiosamente, todas as noites.

Quando o filho acordava e via o nó, sabia que o pai tinha estado ali.

O nó era o meio de comunicação entre eles.

A diretora ficou emocionada com aquela história singela e constatou, surpresa, que o filho daquele homem era um dos melhores alunos da escola.

Essa história nos faz refletir sobre as muitas maneiras pelas quais podemos demonstrar carinho e amor, nos fazer presentes, nos comunicar com aqueles que amamos, mas que nem sempre podemos estar perto.

Aquele pai encontrou a sua maneira simples, mas eficiente.

E o mais importante é que o filho percebia, através do nó afetivo, o que o pai estava lhe dizendo.

E você? Já deu algum "nó no lençol" de quem você quer demonstrar carinho?

Um nó de afeto mesmo na ausência?

Você pode encontrar a sua própria maneira de garantir a sua presença.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

TUDO TEM SEU TEMPO

O tempo é mágico, cura feridas, amortiza as dores, traz conhecimento e sabedoria, fortalece o que sentimos, enterra o que deixamos de sentir e traz as verdades por que tanto ansiamos. Um dos maiores favores que podemos fazer a nós mesmos é saber aguardar a passagem do tempo - enquanto agimos, jamais passivamente -, pois sempre haveremos de colher de acordo com o que plantamos, e na hora certa.
Há tempo para falar. Para expressarmos nossos sentimentos a quem amamos, colocarmos nossos pontos de vista, ensinarmos nossos filhos, discutirmos nossos relacionamentos. Acumular sentimentos dentro de nós o tempo todo adoecerá nossa alma e nosso corpo. É necessário dizermos o que e como nos sentimos, com as pessoas certas, nos momentos apropriados. Temos sempre muito a dizer, por menos que acreditemos nisso, pois somos únicos e especiais à nossa própria maneira.
Há tempo para silenciar. Encontrarmos os momentos adequados para nos expressarmos vai fazer toda a diferença em nossas vidas. É preciso que o outro esteja aberto a receber o que temos a oferecer; caso contrário, estaremos fadados a ecoar no vazio inútil do qual ninguém sai fortalecido, muito pelo contrário. No calor das emoções, por exemplo, tendemos a proferir palavras ofensivas, rancorosas e, muitas vezes, não correspondentes às nossas verdades. Nada disso vale a pena nesses momentos, apenas o silêncio.
Há tempo para plantar. É preciso cultivar e cativar as pessoas que nos amam verdadeiramente, dia após dia, pois com elas poderemos contar quando precisarmos de mãos amigas nos afastando dos fantasmas de dentro de nós. Discernir entre quem precisa do que somos e quem apenas precisa nos usar em proveito próprio nos ajudará a caminhar mais tranquilamente por caminhos mais transparentes. Somente assim conseguiremos preencher os vazios de nossa essência, de forma a que não nos percamos na solidão da amargura e do arrependimento.
Há tempo para colher. Ninguém fugirá ao enfrentamento das conseqüências de tudo o que fez ao longo do caminho. Todos colheremos exatamente o que plantamos. Todos estaremos rodeados pelo tipo de gente com quem priorizamos conviver enquanto caminhávamos. Todos nos encontraremos no lugar que fizemos por merecer. Diariamente, temos de escolher, dentre as muitas opções que se nos descortinam, e essas escolhas determinarão o tipo de vida que viveremos e que nós mesmos escolhemos viver. Vale lembrar que, como diz o ditado, quem semeia ventos colhe tempestades. Semeie paz.
Há tempo para ser. Temos que ser crianças, adolescentes, jovens e idosos na idade certa. Não adianta querer correr contra o tempo ou lamentar-se sem parar pelo que não fizemos, não dissemos. Vestir-se tal qual um adolescente, quando na meia idade, por exemplo, partindo em busca de um tempo perdido que não volta mais, não trará felicidade, tampouco compensará o que se perdeu pelo caminho. Certas coisas podem ser obtidas, não importando a idade que se tenha, porém, algumas delas terão que ser esquecidas - é necessário saber do que abrir mão para sempre.
Há tempo para sofrer. Inevitavelmente, passaremos por muitos momentos de dor, decepções, perdas e sofrimentos enquanto construímos nossos caminhos. Teremos que nos permitir sofrer a dor de nossas angústias, o frio das escuridões que nos rodeiam, enfrentando os dissabores desnudados de simulacros, para que possamos recolher nossos cacos e nos reerguer com dignidade, a cada amanhecer. Estaremos cada vez mais fortes e certos de nossas verdades após os reveses que avassalam, mas não matam. Enquanto houver vida, nossos sonhos nos alimentarão.
Há tempo para sorrir. Ninguém será feliz o tempo todo, sobretudo porque nossa felicidade é uma meta a ser buscada continuamente, portanto, não deverá nunca estar completa. Do contrário, estacionaríamos no tédio, pois nada mais teríamos a alcançar em nossas vidas. Somos felizes exatamente enquanto buscamos satisfazer nossas necessidades e sonhos; somos felizes enquanto o raio de nossas boas ações alcançam várias pessoas. Porque a felicidade é contagiosa e se espalha rapidamente. Há tempo para se entregar. Não poderemos nos doar o tempo todo, incondicionalmente, ou nos perderemos de nós mesmos e daquilo que nos define. É preciso saber o que e quem merece nossa entrega, de forma a que nos lancemos a relacionamentos que nos tornem melhores e mais humanos. Sempre precisaremos estar atentos ao nosso bem estar, pois dele dependerá estarmos felizes em nossos compartilhamentos de vidas. Certos momentos nos pedirão distanciamento do outro, pois estaremos bens e completos sozinhos, nos preparando para receber novamente alguém em nossas vidas, na hora certa. Unir-se deve implicar sempre ganhos e soma, jamais perdas ou subtração.
Há tempo para adeus. É preciso despedir-se de pessoas, de coisas, de momentos, de sentimentos. Veremos muitos que amamos partindo, para outra cidade, para novas amizades, novos amores, para outro país, ou mesmo partindo de sua existência aqui na terra. Teremos que estar preparados para as separações, sempre acreditando em novos recomeços e guardando, em nossa memória, momentos especiais junto àqueles que nos são importantes - tais lembranças ajudarão a acalmar nosso coração em meio à dor da saudade, bem como também estaremos presentes e perpetuados nas memórias de quem nos amou, quando partirmos.
Como se vê, o tempo é o mestre de nossas vidas, pois nos disponibiliza infinitas possibilidades de nos aprimorarmos e de nos reinventarmos, aprendendo com os erros e crescendo com os acertos. Embora ele também seja impiedoso e não nos poupe das inevitáveis colheitas, por mais dolorosas que possam ser, possui uma capacidade consoladora e reconfortante que nos é deveras útil na sobrevivência após os maremotos emocionais. Caso estejamos agindo de acordo com propósitos honestos, sem atropelar a dignidade alheia, e nos cercando de pessoas com amor recíproco e sincero, o tempo sempre correrá em nosso favor, tornando-nos, dia após dia, mais sábios, verdadeiros e prontos para buscar a felicidade, cheios de esperança e de amor para dar e receber.



quarta-feira, 11 de novembro de 2015

CUIDE DOS SEUS ACHADOS E APRENDA COM OS PERDIDOS

"Valorizar os ganhos e aprender com as perdas, no sentido de reconstruirmos o nosso caminho, mesmo que às duras penas, eternizará em nossas lembranças tudo aquilo que deverá ser o alicerce de nossos pensamentos e ações enquanto estivermos dispostos a encontrar a felicidade."

Viver implica inevitáveis perdas e ganhos, tendo ambos uma importância extrema ao nosso amadurecimento pessoal. No entanto, é muito difícil aprendermos a lidar com os aspectos negativos e que incomodam o nosso caminho, pois eles parecem se fixar em nossas memórias de forma indelével, perseguindo-nos enquanto vivermos. E, enquanto não conseguirmos digerir os obstáculos com lucidez e maturidade, não estaremos preparados para sorver todo o prazer inerente aos aspectos positivos que nos circundam diariamente.
Teimamos em nos prender ao que se foi, ao que já não tem mais razão de ser, ao que poderia ter sido e, enquanto isso, a vida passa lá fora, com todas as novas oportunidades que sempre traz consigo, muitas delas nos estendendo as mãos inutilmente. Sem que nos desapeguemos daquilo que já cheira a mofo, é impossível que abracemos o novinho em folha. Caso fiquemos lamentando aquilo que não deu certo, não teremos forças para fazer algo dar certo. Lágrimas excessivas acabam cegando nossos sentidos, enganando nossa percepção de mundo, retirando todo o colorido da vida de nosso olhar.
Existem tragédias cujas consequências são por demais dolorosas e inevitavelmente nos marcarão tão fundo, que jamais seremos os mesmos após o ocorrido, como, por exemplo, a perda de um filho, um acidente que nos limita fisicamente, um fenômeno natural que destrói tudo o que lutamos para obter. São os divisores de água que demarcam o antes e o depois em nossas vidas, são os alarmes necessários a que acordemos frente à finitude da vida, à pequenez de cada um de nós diante da força do universo, à insensatez do acúmulo de bens em desfavor do sentir e do compartilhar.

Para que possamos passar por tudo o que a vida nos reserva, no melhor e no pior, sem nos perdermos em meio a uma noite eterna, vale nos prepararmos enquanto há luz do dia. Nos momentos de calmaria, é preciso aproveitar os momentos, desfrutando-os junto com amigos e familiares, cultivando nossos relacionamentos com as pessoas que serão nosso arrimo, nosso porto-seguro, sempre que precisarmos. Vale acolhermos com amabilidade a todos que convivem conosco, pois a ajuda muitas vezes vem exatamente de quem menos esperávamos, de alguém em quem nem prestávamos atenção.
Temos que nos permitir sermos eternos aprendizes, a estarmos inacabados, em formação, abertos à reorganização dos pensamentos, à desestruturação de paradigmas, ao enfrentamento de verdades. É necessário criar uma consciência elástica, flexível frente às mudanças que abalarão tudo o que pensávamos saber a respeito das coisas, das pessoas, dos sentimentos. Compreender a própria finitude e a certeza de que nada nesta vida é certo nos ajudará a atravessarmos a nossa lida com mais sobriedade, segurança e capacidade de nos reinventarmos a cada abalo sísmico de nossos sentidos.
Valorizar os ganhos e aprender com as perdas, no sentido de reconstruirmos o nosso caminho, mesmo que às duras penas, eternizará em nossas lembranças tudo aquilo que deverá ser o alicerce de nossos pensamentos e ações enquanto estivermos dispostos a encontrar a felicidade. E sabermos que essa felicidade é um caminho de busca nem sempre prazeroso determinará, enfim, a qualidade de nossa vida junto de quem nos provoca sorrisos sinceros, pois, tendo conhecido a escuridão, os caminhos de luz serão ainda mais mágicos e especiais.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

AMOR PRÓPRIO


Ontem encarei o espelho, me acomodei na poltrona de braços largos e fiquei ali namorando os meus detalhes. O tamanho dos meus olhos, o formato da minha boca, a minha cintura não tão fina e até as pontas duplas do meu cabelo. Fiquei ali por horas, me amando. Repetindo sem cessar: Moça, como você é linda. Por favor, não confunda o meu amor próprio com o egocentrismo. Não, antes de conhecer a minha história. Eu passei a minha vida inteira vestida de patinho feio, fugindo do espelho e o tratando como o meu pior inimigo. Eu o odiava por me mostrar tudo o que eu não queria ver. A celulite espalhada por toda a minha bunda e a longa distância entre a minha nuca e o meu glúteo. As estrias nos seios. A barriga nada chapada. O cabelo ressecado. As espinhas no queixo. As três linhas desenhadas na minha testa. O braço de maria-mole. Toda vez que ele escancarava minuciosamente tudo o que eu lutava para esquecer, discutíamos por horas. Eu chorava, desabafava e o culpava por tudo. Pelos relacionamentos fracassados, pelos foras que recebi e até pelos olhares que nunca consegui atrair. Eu não aceitava minhas imperfeições. Elas gritavam o tempo inteiro aqui dentro, me cegavam e não me deixavam reparar no belo par de pernas que tenho. Nem no pequeno nariz que mora no centro do meu rosto ou na mulher inteligente, determinada e engraçada que sou – capaz de seduzir qualquer pessoa. A cada término, despedida e batida de porta eu me detestava mais. Sentia-me rejeitada, feia e incapaz de despertar qualquer interesse num homem. Já pedinchei muito amor, supliquei cafuné, me humilhei por elogios simplórios e me odiei por não ser ‘bonita’ – loira, magra e dentes branquíssimos igual as bailarinas do Faustão . Deixei inúmeras vezes o meu amor-próprio de lado para manter alguém do meu lado, e todas às vezes saí com o ego ainda mais ferido e com o coração na mão. Foi numa dessas decepções, com o rímel preto escorrendo pelas bochechas e o peito sangrando que decidi mudar. Aos poucos fui mudando. De dentro para fora. Vesti a minha alma de amor, expulsei o rancor do meu peito e propus paz ao espelho. Hoje eu não me maltrato mais. Eu aprendi a amar os meus defeitos, o meu cabelo bagunçado, o sorriso torto, as olheiras profundas, a meia e o chinelo. Os dois quilos a mais, as falhas na sobrancelha e a coluna levemente curvada. Parei de me cobrar tanto e comecei a cobrar mais dos outros. Quem gosta de verdade, fica com você de vestido e pijama. Com defeitos e qualidades. Com ou sem maquiagem. Hoje o meu peito sorri, quando vê a mulher linda que reflete no espelho, porque a alma reflete aquilo que o coração guarda. E o meu coração guarda amor. Amor próprio.

Escrito por Kauane Mello e Kimbelly Gomes – Via Suspiros & Desatinos

domingo, 8 de novembro de 2015

MUDANÇA

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena! 


Clarisse Lispector

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Desencantar é preciso....

A questão é: como saber a hora de encerrar os nossos ciclos pessoais? Quando saberei se devo mesmo abandonar aquele trabalho que me esgota completamente? Aquele relacionamento que já não faz as estrelas dos meus olhos se acenderem? Aquele curso que eu insisto em levar adiante sem paixão? Aquele “caso” que tem mais jeito de des-caso que qualquer outra coisa?
A gente vive ouvindo (e repetindo) sobre a importância dos ciclos.
Na bíblia inclusive tem uma passagem linda sobre isso, nos Eclesiastes: “há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de dançar; (...) tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz."
Muitos dos ciclos independem de nós, porque são regidos pelas sábias mãos da Natureza, do Destino, do Barba (meu jeito carinhoso de me referir a Deus. Acho “Deus” muito sério...), do Universo, dos Oráculos, ou seja lá o nome que cada um dá às forças invisíveis que organizam o mundo. E isso é bom, porque nos poupa de qualquer esforço e até mesmo da responsabilidade pelas mudanças ao nosso redor. Podemos ficar lá, confortavelmente sentados em nossos sofás, assistindo nossas séries no Netflix, tomando chá e tá tudo certo: o “mistério da vida” se encarrega de abrir e fechar as portas pra nós, sem que tenhamos de manejar qualquer maçaneta ou lidar com as possíveis dobradiças enferrujadas pelo tempo.
Algumas portas, porém, dependem totalmente da nossa ação para se abrirem ou se fecharem. E aí não tem zona de conforto que dê jeito: normalmente precisamos nadar contra a maré, criar disposição hercúlea, arcar com consequências doloridas.
E a grande questão é: como saber a hora de encerrar os nossos ciclos pessoais? Quando saberei se devo mesmo abandonar aquele trabalho que me esgota completamente? Aquele relacionamento que já não faz as estrelas dos meus olhos se acenderem? Aqueles “amigos” por conveniência, que não acrescentam beleza na incrível arte de (con)viver? Aquele curso que eu insisto em levar adiante sem paixão? Aquele “caso” que tem mais jeito de des-caso que qualquer outra coisa?
Bem que podia existir um abracadabra instantâneo, capaz de indicar os momentos dos nossos pontos finais. Mas não tem. E coragem sozinha não segura a biela quando as consequências chegam. Quando as contas chegam. Quando as solidões – e elas são tantas... - chegam. Quando o céu escurece. Quando você precisa criar um monstrinho imaginário chamado Martino pra conversar à noite, depois de chegar em casa e fechar a porta – literal e simbolicamente (porque sim, esta é uma das portas que o tal “mistério da vida” não consegue fechar por conta própria).
A coragem precisa estar acompanhada. Uma coragem sozinha não faz decisão. Não sei se os acompanhamentos da coragem funcionam ao estilo Outback: uns preferem batata frita, outros preferem cebola e outros preferem legumes – apesar de eu achar que legumes não combinam taaaaaanto assim com Outback. Mas ok, o acompanhamento é pessoal e intransferível.
A minha coragem, por exemplo, precisa sempre de dois acompanhamentos: de uma lista objetiva e de desencanto.
A lista objetiva pode demorar pra ficar pronta. São páginas e páginas de um diário, dias e noites pesando pacotinhos emocionais na balança do coração, horas e horas de conversa séria – com a mãe, com a tia, com as irmãs, com o Martino, com os amigos mais próximos e, acima de tudo, consigo mesmo. Mas depois de todo esse processo de maturação, geralmente a lista objetiva vira um instrumento bem confiável de decisão. Quase um “plano de negócios” pra vida – pra quem tem essa mania de racionalizar tudo como eu. Ou de pelo menos tentar, porque nem sempre o coração sai do meio do caminho.
O desencanto já é mais lento. Porque o irmão gêmeo dele, o encanto, é otimista demais. E no palco da decisão só cabe um por vez: pro desencanto entrar, o encanto precisa sair. Só que o encanto é um cara insistente! Ele vê que os passos estão desalinhados, ele vê que as estrelas dos olhos estão desbrilhando, ele vê que a alegria está esquecendo de chegar... Mas ele acha que é só um dia, só uma semana, só uma coincidência, só uma fase; que logo tudo se alinha, tudo se acende, tudo se achega. Ele tenta usar a balancinha emocional, mas acaba confundindo as medidas de cada prato (o encanto nunca é bom com coisas práticas) e ajusta um lado em quilo, outro lado em arroba. E ainda assim teima em dizer que o equilíbrio que ele enxerga na balança é a realidade do mundo. O encanto testa todos os experimentos que encontra. Passa dias e noites misturando cores, texturas e ilusões nos seus tubos de ensaio de esperança. Mas de tão incansável, chega uma hora que ele cansa... É muita espera pra nenhuma chegada. E então aos poucos ele vai desistindo. Desiste das cores, dos brilhos, dos dias e das semanas. E só então percebe o desajuste nos pratos da balança.
Ôrra, encanto! Já não era sem tempo!
O desencanto já estava cansado de esperar nos bastidores. Mas quando ele sobe no palco... Pre-para! Porque, junto com ele, o fim do ciclo chega chegando, delicadamente vestido em seu modelito avalanche. O desencanto, a essa altura, já decorou todas as frases da lista objetiva. Tá com o script afiado, na ponta da língua. Basta dar as mãos à coragem e então, finalmente, o abracadabra acontece! Vai ser duro, vai machucar. A avalanche do fim do ciclo traz consigo apertos impressionantes no lugar em que antes a gente tinha um coração todo cheio de si; traz insegurança, medos de todos os tamanhos e formatos. Mas o desencanto é um mocinho decidido e está sempre lá segurando uma plaquinha que diz SIM, ESTAMOS NO CAMINHO CERTO APESAR DOS PERRENGUES. É preciso ter força – nas pernas, nos olhos, no buraco negro que agora preenche o peito – e caminhar por um tempo em meio ao caos. Tem hora que a estrada parece longa demais, pedregosa demais, triste demais.

Só que em alguma manhã mágica, o sol nasce com força e a gente encontra uma porta no final da trilha. E é ali que nos despedimos do desencanto. É ali que termina o fim do ciclo (sim, porque até os términos precisam terminar de verdade). Basta um agradecimento rápido com aperto de mãos, sem convites para o facebook ou para jantares em casa. O desencanto já está acostumado: o papel dele é apenas fechar a porta que a gente abre no final do caminho de pedras.
E não é incrível essa sintonia entre irmãos? Mal nos despedimos do desencanto e, no primeiro passo porta adentro, lá está ele nos esperando, num palco novinho em folha: o encanto. De braços abertos, sorrisão no rosto, havaianas coloridas nos pés, óculos desalinhados, todo descabelado entre balanças, cores, fórmulas mágicas e tubos de ensaio. E a gente se joga sem pensar! Porque o brilho dos olhos dele é irresistível demais pra gente se lembrar de corações esvaziados, avalanches avassaladoras ou caminho de pedras. A propósito: alguém se lembra de uma porta fechada agora há pouco?
 
Giselle Castro

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A ERA DESCARTÁVEL

"Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.” A frase do sociólogo polonês Zygmunt Bauman resume com brilhantismo a vida do homem na pós-modernidade ou como ele mesmo prefere, modernidade líquida, posto que a fluidez das relações exige que estejamos em constante mudança.
Sendo assim, vivemos sob a égide da velocidade, ou seja, toda relação que se proponha a durar não possui espaço no mundo líquido. Em outras palavras, o sucesso está relacionado à capacidade de rotatividade nos relacionamentos, isto é, a capacidade de trocar de relacionamentos no menor espaço de tempo possível.
Essa característica do homem contemporâneo é o que determina o seu sucesso segundo Bauman. Para ele, o sucesso do “homo consumens” não se caracteriza pelo acúmulo de bens (sejam materiais ou humanos), mas pela maior capacidade em desfazer-se deles.
"É a rotatividade, não o volume de compras, que mede o sucesso na vida do homo consumens."
Posto isso, a de se considerar que a incapacidade em manter relações que apresentamos faz com que não consigamos acumular o menor volume de compras e, assim, transformamos a vida em uma grande rede descartável.
Como não consigo ter um relacionamento que me traga satisfação, tento preenchê-lo como inúmeros relacionamentos efêmeros. Esse vazio também é preenchido com bens materiais, entretanto, como o sucesso é medido pela rotatividade, faz-se necessário que troque constantemente de bens a fim de que mantenha o vazio “preenchido”.
Dessa forma, não existem laços que prendem as pessoas, de tal maneira que a todo tempo, pessoas se desfazem de pessoas, como se estas fossem tão importantes quanto um copo descartável. Aliás, uma pessoa e um copo descartável exercem a mesma função. Em um primeiro momento são úteis para atender uma necessidade imediata, mas logo em seguida, perde-se o valor e ambos são amassados e jogados fora.
Na era descartável, quanto maior for a capacidade de desfazer-se, maior é o sucesso do indivíduo. As relações humanas, assim, se caracterizam por uma imensa fragilidade, em que o valor dos relacionamentos está ligado a um prazo de validade.
Pessoas entram e saem da nossa vida sem que possamos, de fato, conhecê-las. Habituamo-nos a não criar laços, fincar raízes. Temos necessidade de relacionamentos que sejam levados pelo vento, pois só o tempo permite que criemos raízes, e estas parecem inadequadas aos nossos tempos.
Quanto maior a raiz, mais profundo um relacionamento torna-se e, por conseguinte, torna-se mais difícil arrancá-lo. Assim sendo, o valor que o outro nos atribui varia conforme a sua necessidade. Podemos ser essenciais em determinado momento, e noutro ser um estranho.
Esse intervalo entre ser essencial e ser um estranho vem diminuindo com o passar do tempo, uma vez que, como nada é feito para durar, nossas necessidades também mudam constantemente e, por conseguinte, deixamos de ter importância para o outro, pois essa importância é condicionada a necessidade que tínhamos.
O homem contemporâneo parece não gostar de raízes e busca relacionamentos baseados na facilidade de desconectar e jogar fora. Não passamos de meras mercadorias como qualquer outra, estamos ficando mais sozinhos e com relacionamentos frágeis. A era descartável é silenciosa e fugaz, quando menos esperamos, somos jogados fora, dado que nossa utilidade chegara ao fim.
Na modernidade líquida, a velocidade assume o controle e, portanto, não existe tempo para refletir, apenas fazemos e deixamos de fazer, somos importantes e deixamos de ser importantes, sem a menor capacidade de reflexão. A única capacidade que temos é a de desfazer-se e esta qualquer um pode ter.
Qualquer um pode ter, porque é fácil e a facilidade é uma jovem sedutora. Livrar-se do outro quando quiser é sempre mais fácil, o grande problema é que com o passar do tempo as opções vão diminuindo, até que todos sejam descartados e você esteja sozinho. Mas, talvez não haja tanta diferença, afinal em tempos líquidos ou descartáveis,
“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.”

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

COMER, REZAR, AMAR: TRÊS VERBOS PARA SE ENCONTRAR

Há quem diga que Liz Gilbert é uma mulher fria que abandonou o marido para curtir a vida. Há quem diga que ela é uma espécie de Bridget Jones mais magra. Há quem apenas tenha inveja e há quem diga que ela é corajosa e determinada. Eu sou da última opinião. Seria um crime grande demais ser infeliz por toda a vida porque um dia tomamos uma decisão errada ou porque não temos coragem de admitir que nós mudamos com o tempo.
Há pessoas que o entendem como um livro de "auto-ajuda". Não é. Mas e se fosse? Desde quando um livro de auto-ajuda não pode ser bom? Seja pela experiência profissional, pessoal ou pelo trabalho de pesquisa do autor, existem diversos livros que nos apóiam na reflexão de questões importantes. Nem somente de Shakespeare vive o leitor.
Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love, EUA, 2010) é um filme baseado no livro homônimo da jornalista americana Elizabeth Gilbert. A história é verídica e se passa em três países, pelos quais a escritora faz uma jornada a fim de se encontrar.
Eu sou bem democrática em relação à leitura, segundo alguns critérios, obviamente. Confesso que, à primeira vista, o livro "Comer, Rezar, Amar" não me agradou. Talvez fosse o título, direto demais. Porque há pessoas que precisam que o título seja mais intrigante, tenha algo de misterioso, ao estilo Agatha Christie. Eu sou uma dessas pessoas. É claro que é uma questão muito pessoal, mas eu - que tinha acabado de sair de um relacionamento - não estava interessada em ler um livro que me mandava fazer as três coisas que eu queria evitar - por uma questão de autocomiseração ou bom senso, não sei.
Então, algum tempo depois, fui ver o filme, mesmo com aqueles três verbos que prometiam dar-nos a luz para o autoconhecimento. Fomos ao cinema em um grupo de quatro mulheres. Todas solteiras, felizes e querendo comprar alguma passagem para um lugar bem distante daqui. É claro que o filme deu certo conosco. E muito. Não somente pela identificação com a personagem de Julia Roberts, mas pela identificação com a liberdade de comer horrores na Itália sem nos preocuparmos com o ponteiro da balança no dia seguinte.
O filme era exatamente tudo o que queríamos. Largar nossa vida e cair no mundo - de boca - em outras culturas, com a desculpa de que precisávamos achar nosso verdadeiro "eu" e toda aquela conversa típica de divã ao custo de 150 a sessão.
Depois de assistir ao filme, apesar do terrível português de Javier Bardem - que interpreta um brasileiro, atual marido de Elizabeth Gilbert - fiquei intrigada acerca do livro. Pela minha experiência tive certeza de que a versão cinematográfica escondia tesouros importantes da história.
Pois bem, li o livro. E ele consegue ser extraordinariamente encorajador e inspirador. Elizabeth Gilbert é, de fato, uma mulher forte que abriu mão de uma situação estável e conveniente para buscar o que realmente a deixava feliz. E, em um mundo no qual o comodismo e o contentamento são colossais, o livro, no mínimo, nos deixa inquietos.
O que a maioria de nós, certamente, faria - ao descobrir um descontentamento com nossa vida - seria entender isso como uma crise existencial. Choraríamos, faríamos terapia e continuaríamos na mesma. Mas Liz agiu diferente. Estava infeliz, queria mudar. Não queria o convencional - o que todas as mulheres de 36 anos desejam, ou deveriam desejar: filhos, uma casa com jardim e colchas feitas à mão, uma sopa reconfortante que borbulha no fogão - como a própria autora descreve. Não. Seus sonhos eram outros naquele momento. Mas, como dizer tal coisa para o marido e amigos? "A única coisa mais inconcebível que ir embora, era ficar". E assim, Liz Gilbert foi-se.

O roteiro, de uma forma genérica, é bem leal ao livro. Sua jornada começa na Itália, onde Liz rende-se aos prazeres culinários sem culpa. Mais tarde, vai à Índia procurar por alguma espiritualidade e paz interior. Sua viagem termina na Indonésia, onde encontra Felipe, o homem que conquistaria seu coração para sempre.
O livro virou best-seller e o filme foi elogiadíssimo pela crítica e consagra, novamente, Julia Roberts como uma da melhores atrizes de todos os tempos. Com a direção de Ryan Murphy (diretor das séries de TV "Nip/Tuck" e "Glee"), o longa traz no elenco os atores James Franco, Billy Crudup, Viola Davis e o charmoso Javier Bardem. A fotografia é espetacular e a trilha sonora é impecável, com músicas de Neil Young, Eddie Vedder, além da sonoridade brasileira de Bebel Gilberto.
Se deixarmos o preconceito de lado, podemos curtir um bom livro e um bom filme. É uma história inspiradora, a qual permite questionarmos, de maneira particular, nossa própria zona de conforto e até onde iríamos se realmente tivéssemos coragem. As circunstâncias de Liz foram essas, mas existem muitas outras diferentes que têm o potencial de fazer-nos ficar na mesma posição da jornalista.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

ESTOU TE DEIXANDO, MAS EU NÃO SOU O VILÃO DA HISTÓRIA

"Quem toma a iniciativa de romper mal sabe o bem que sua atitude acarretará, oportunizando ao outro a possibilidade de se livrar de um peso que o aprisionava a uma situação vazia de sentido, sem que o percebesse, oferecendo-lhe a chance de partir em busca de ser feliz junto de alguém que o amará de verdade, como todos de fato merecemos, por mais que doa e demore."
    Sempre que ocorre um rompimento amoroso, tendemos a tomar as dores da pessoa que foi deixada pela outra, de quem foi o sujeito passivo da história. Aparentemente, na maioria das vezes, esta sofre mais, pois ainda acreditava na possibilidade de salvação do relacionamento, enquanto o outro desistiu, deixando-a só, como que sem tentar investir em tudo o que já construíram até então.
    Textos, filmes, novelas, vários são os enredos que tratam da viagem dolorosa que implica a perda de um grande amor. Somos inevitavelmente levados a nos compadecer das dores de quem fica, enquanto costumamos retratar quem desistiu como alguém impiedoso, desprovido de compaixão. No entanto, trata-se de uma visão unilateral e muitas vezes injusta de um episódio em que duas pessoas estão envolvidas, sendo que, muito provavelmente, ambas sofrem.
    Nem sempre quem desiste do outro deve ser visto como o vilão da história, como alguém que desiste facilmente das coisas, alguém sem sentimentos, sem gratidão pela entrega alheia, afinal, é preciso coragem para perceber que não vale mais a pena investir em um relacionamento que já morreu de vez e partir em busca de um novo rumo. Desde que a separação não seja pautada por atitudes aviltantes, indignas e desrespeitosas para com o companheiro, às vezes ela é a única saída de uma situação que já não se sustenta e que está trazendo tão somente infelicidade aos envolvidos.
    É difícil acreditar em rompimentos repentinos, sem precedentes que indicassem a falência do relacionamento há tempos. A separação é o ponto culminante de um processo que já vinha sofrendo desgastes e desatenções, mesmo que o casal se negasse a enxergar isso, acomodando-se ao não respirar mais juntos. Tomar a iniciativa de querer quebrar um círculo vicioso e sufocante, nesses casos, é penoso, mas deve ser algo a ser valorizado, pois, na maioria das vezes, está se salvando as vidas que estão em jogo.
    A separação é complicada exatamente porque não envolve somente o casal, mas as famílias e amizades mais próximas também. Criamos vínculos com os familiares e amigos do parceiro e o rompimento acabará fatalmente influindo na dinâmica de todas essas relações. Na maioria das vezes, teremos de nos afastar de ambientes e de pessoas de que gostamos bastante, uma vez que muitos tomarão certamente o partido do ex, obrigando-nos a nos distanciar de lugares e de convivências que nos faziam tão bem.
    O que não podemos é julgar as pessoas, analisando-as confortavelmente acomodados aqui de fora do redemoinho, sem que tenhamos real conhecimento de tudo o que se passava na intimidade cotidiana do casal. Sabemos muito pouco sobre tudo o que foi feito, dito, acumulado naquelas vidas, ou apenas conhecemos a versão de um dos lados, o que nada mais é do que uma visão parcial e subjetiva. Tudo o que concluirmos, pois, nesses casos, também acabará sendo parcial e limitado.
    Quem toma a iniciativa de romper mal sabe o bem que sua atitude acarretará, oportunizando ao outro a possibilidade de se livrar de um peso que o aprisionava a uma situação vazia de sentido, sem que o percebesse, oferecendo-lhe a chance de partir em busca de ser feliz junto de alguém que o amará de verdade, como todos de fato merecemos, por mais que doa e demore. O tempo então se encarregará de mostrar a quem tanto sofreu a dor de ser preterido que nem sempre o lobo é mau, mas sim faz o papel de fada-madrinha, oferecendo-nos uma nova chance de recomeçar, mais seguros, fortalecidos e prontos para receber amor verdadeiro em nossas vidas.
    Marcel Camargo

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

PESSOAS NÃO SÃO RECEITAS, FAZEM RECEITAS



Não enquadre ninguém em molduras achando que aquela pessoa que você conhece em um mês é excelente, porque ela não é. É ser humano, não vai ser perfeito. E não se enquadre ao querer de ninguém, acredito que você possa ser você mesma/o. Mudar certas atitudes, sempre são necessárias, mas mudar a essência, creio que seja muito arriscado.
Muitas revistas, sites, filmes, músicas, nos fazem acreditar que nós é que devemos mudar para conquistar o outro. "Como conquistar um homem em 4 passos." "Guia prático da mulher inteligente." Cada bizarrice! Que acaba tornando muita gente cheff de cozinha. Que fica usando receitar e regras do que fazer e não fazer.
PARA! POR FAVOR! NÃO HÁ RECEITA! Não há um método que faça o outro cair aos seus pés a não ser ser você mesmo. Forçar situações, forçar ser o que não é, engolir "sapos", ficar calada/o diante de uma situação que a desagradou só para ver o outro bem... Não rola! Pessoas não são receitas, se fosse assim seria muito fácil, só seguir o roteiro e estaria tudo resolvido.
Se fosse assim, seria muito fácil se relacionar com o outro e no mundo real não é assim que as coisas funcionam. Se relacionar, seja em família, com parceiros, amigos, colegas de trabalho, tem conflitos, encontros, afeições, identificações ou não. Que você só vai saber se conviver, só se permitir-se a identificar o melhor e o pior no outro. Identificar as suas diferenças e a diferença do outro em relação a você.
Por isso há a frustração, querer que o outro atenda as ações que você mesma criou em sua cabeça, forçar o outro a ser ou fazer o que não quer. Se o outro NÃO QUER, deixa ele não querer, em algum momento você entenderá o por quê de não ter dado certo de acordo com suas expectativas.
Não enquadre ninguém em molduras achando que aquela pessoa que você conhece em um mês é excelente, porque ela não é. É ser humano, não vai ser perfeito. Não enquadre ninguém em receitas que as revistas dizem. Se ele não retornou sua ligação, pode ter sido tanta coisa... Calma! Você e nem ninguém tem o poder de prever o futuro, deduzir... um pouco, mas acertar com exatidão? Só mesmo arriscando, vivendo, sem neuras. E não se enquadre ao querer de ninguém, acredito que você possa ser você mesma/o. Mudar certas atitudes, sempre são necessárias, mas mudar a essência, creio que seja muito arriscado.
E para! O problema não é você, são as circunstâncias que a vida impõe ou que um de vocês impõe. Desencana! Dá ou não dá pra realizar, pra continuar. É SIM ou é NÃO. QUERO ou NÃO QUERO. Simples assim.
Na verdade quem cria as regras somos nós mesmos, que nos submetemos a elas ou que acreditamos nelas. A vida deveria ser vista como algo que não tem volta. Um dia é um dia e outro dia é outro dia. Mas aí você vai me dizer: Ah, mas isso é óbvio! Mas na prática não é não. Não temos o poder de determinar nada, tudo pode mudar, nem tudo depende só de nós.
Se o outro quer, bom. Se não, ótimo. Vida que segue. Por quê insistir?

Daniella Lins

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Felicidade Silenciosa

“Felicidade é discreta, silenciosa e frágil, como a bolha de sabão. Vai-se muito rápido, mas sempre se podem assoprar outras.” Rubem Alves
Certa vez viajei para um paraíso na costa da Austrália, e após alguns dias sem dar notícias, uma amiga me escreveu preocupada: “E aí, não está gostando da viagem?” – não entendendo a pergunta, respondi prontamente, “Poxa, é claro que estou. Da onde você tirou essa ideia?”. Ela então, concluiu sua lógica – “ah, é que você não postou nada a respeito, achei que não estivesse se divertindo”. A lógica dela, que é a lógica da maioria (incluindo a minha), me fez pensar. Estaríamos tão acostumados a propagar nossa alegria, que desaprendemos a reconhecer a felicidade silenciosa?
Felicidade silenciosa. É assim que eu chamo aqueles momentos da vida em que não faz a menor diferença se o celular tem bateria ou não. Sabe? A turma certa, a beira de praia perfeita, o boteco no meio da semana, o sítio com os irmãos, os lençóis cheios de delícias, o livro novo, o dia de ser boa companhia pra si mesma(o). Momentos onde a beleza de ser e estar é tão sublime, que ninguém fora destes pequenos universos precisa ficar sabendo. Talvez ela aconteça por medo de que os holofotes ofusquem quem enxerga estas maravilhas. Ou ainda por conta de quem teme o olho gordo. A minha teoria reina na simplicidade da distração. Felicidade silenciosa ocorre por pura distração. Algo do tipo, “opa, esqueci de viver o online pros outros, enquanto vivia o offline pra mim”.
“Ora, ora, não seja hipócrita!”. Sim. É claro que as fotos da minha viagem estão no meu perfil, obvio que eu faço check-in em lugares bacanas e divido meus momentos de emoção com minha audiência preferida em inúmeras ocasiões. Sem dúvidas sou uma daquelas pessoas que gosta de compartilhar onde foi, o que viu, como viveu. Todo mundo é um pouco assim. Entretanto, verdade também é que nada me distrai mais que a felicidade silenciosa. Eu adoro me perder em ruas que desconheço mundo afora e memorizar os cheiros e as sensações. Eu deixo o celular fora do quarto pra me perder nas curvas de alguém que me tira a atenção. Amo e prefiro contar minhas aventuras pessoalmente, pra aqueles que gostam de me ouvir vendo a emoção nos meus olhos e não no brilho de uma tela. Quando não me encontram no celular, quem me conhece já sabe e canta a pedra “está por aí aprontando alegria e sendo feliz!”. E estão certos.
Felicidade silenciosa para os outros, mas que clama dentro da alma. Eu sei que quando a gente está feliz, quer gritar essa condição aos quatro cantos do mundo e que nos dias de hoje a tarefa de fazê-lo realmente é possível. Preste atenção, entretanto, que a felicidade silenciosa se basta em existir. Sobrevive dos sussurros de amor e juras menos dramáticas. É propagado em grupos menores, entre abraços que falam mais que palavras. Não precisa de conexão wi-fi. Não é transmitida em um tweet e certamente não tem filtros. Ela é pura. Sincera e por vezes tão rara. Então não se deixe distrair pelos gritos de euforia no mainstream da felicidade pública. Preste atenção na felicidade silenciosa. O resto é só barulho.

Antônia Macchi

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

TEM GENTE QUE SUGA, TEM GENTE QUE SOMA

Encontramos muitas pessoas ao longo da vida, algumas permanecem, outras desistem, muitas passam despercebidas. Por mais que tentemos, é inevitável termos de conviver com quem não nos acrescenta, não nos traz ganhos, não nos encanta, seja no trabalho, seja numa roda de amigos. Por isso, temos que ponderar e discernir sempre, tentando gastar nossas energias com gente que vale a pena. Caso contrário, esgotaremos nossas forças e nossa paciência com quem não mereceria um mínimo de consideração de nossa parte.
Existem pessoas com as quais não nos sentimos bem, que nos desconfortam de alguma maneira, algo que não conseguimos explicar. São aquelas que carregam o ambiente, escurecem os humores e parecem levar consigo grande parcela de nossa felicidade. Deixam tudo mais frio, tornam a dinâmica das relações pesadas e impregnadas de mal-estar. Mesmo em silêncio, tal qual ave de rapina, sempre estão à espreita, para impedirem que os ânimos se elevem positivamente.
Às vezes nem se dão conta do quanto são inconvenientes e não queridas, agindo inconscientemente, pois já internalizaram de tal forma essa carga negativa, que são incapazes de perceber o quanto retiram da própria vida e das vidas alheias. Costumam fazer comentários jocosos, debochar de tudo e de todos, prever sempre o pior, qualquer que seja a situação, jamais reconhecendo o valor de nada nem de ninguém.
Infelizmente, a muitas dessas pessoas de nada adiantarão conselhos, reprimendas, ou mesmo enfrentamento de discussões; tudo será em vão. É preciso esquecê-las, ignorar o que fazem, o que falam, apenas tolerando sua presença, caso seja necessário. Isso é sabedoria: saber com quem vale a pena gastar energia, quem merece nosso melhor, nosso carinho e atenção. É preciso filtrar as convivências, de modo a tornar a vida menos pesada e mais prazerosa. Somente assim não adoeceremos e estaremos sempre prontos para os amanhãs.
Bom mesmo é desfrutar os momentos com aquelas pessoas ao nosso redor que fazem toda a diferença em nossas andanças, enriquecendo-nos positivamente e ajudando a vida a ser mais rica e gostosa de ser vivida. É preciso valorizar cada minuto ao lado de quem tem sempre uma palavra amiga, de quem conhece nosso melhor e nosso pior e mesmo assim está ali conosco, de quem nos ama verdadeiramente, sem ressalvas, sem cobranças, sem fingimento no olhar. É por elas que não desistiremos de lutar para alcançar os nossos sonhos, dia após dia.
Não poderemos evitar o encontro com pessoas desagradáveis e desnecessárias em nosso cotidiano, tampouco estaremos livres de nos enganar com elas, decepcionando-nos dolorosamente nesse caminho. Fazem parte do viver tanto as permanências quanto as rupturas com que se constrói nossa jornada, sendo que ambas são essenciais no fortalecimento de quem somos e na solidificação de nossas verdades. Não podemos é nos fechar à interação, por inteiro, com o outro, pois aqueles que ficarem conosco nos farão tão bem, que nenhum mal ao redor será capaz de abalar a felicidade em nosso viver e a certeza de que estamos bem acompanhados.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Você Pode Superar!

Há momentos em nossas vidas que nos sentimos pequenos, fracos, inseguros e incapazes de reagir e vencer algumas dificuldades que vivemos. Já aconteceu isso com você? Mas quando paramos um pouco e olhamos para “dentro de nós”, percebemos quantos obstáculos, quantas barreiras, quantos nãos, quantos momentos difíceis já vencemos. Percebemos a força, a capacidade, o poder que existe dentro de nós. Então, percebemos que escondido atrás deste gigante chamado medo, chamado dúvidas e incapacidade que acreditamos ter, esta a nossa capacidade de vencer. Quando fazemos esse momento de reflexão da nossa capacidade, das nossas conquistas, dos momentos difíceis que já vivemos e vencemos, fica muito mais fácil enfrentar o momento atual, pois percebemos que é apenas mais um que será vencido. Percebemos que os gigantes somos nós que já vencemos tantos outros problemas e não vai ser o problema atual que vai nos derrotar.

Portanto: quando se sentir incapaz, se sentir inferiorizado, pare por um instante e faça um momento de reflexão. Coloque em uma folha de papel o maior numero de situações difíceis que você já venceu, veja o que você fez para vencer, de quem você recebeu ajuda e como se sentiu após a vitória. Você vai perceber que será capaz de vencer mais esse obstáculo. Não perca tempo pensando no problema, quanto mais você gasta seu tempo pensando no problema, maior ele fica. Pense na solução, gaste seu tempo com a solução, imagine o prazer, a alegria que você vai sentir e o orgulho que vai causar nas pessoas que te amam ao ver você vitorioso. Lembre-se: Você pode vencer mais essa! Quando conquistar a vitória. Convide as pessoas que você ama para comemorar mais essa conquista. Lembre-se: VOCÊ PODE VENCER!!! 

Nestor de Almeida

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

10 coisas que não acontecem só na sua casa

1- Logo no início, descobrimos que puerpério não é uma espécie de molusco. É uma fase em que os hormônios resolvem fazer um baile de Carnaval em nosso corpo. A gente chora quando deveria estar sorrindo, jorra leite nos momentos mais impróprios e tem certeza de que não vai dar conta da maternidade quando sequer consegue cortar as unhas de um recém-nascido. Passa, ufa!
2- Acreditamos que nosso casamento já enfrentou todos os tipos de desafios, até ter filhos. Entre sutiãs beges, olheiras, despesas elevadas à oitava potência, um corpo que ficou com certas sobras, papos escatológicos e uma cama de casal que está mais para coração de mãe, conhecemos o verdadeiro “e foram felizes para sempre”: o da vida real.
3- Vamos enfrentar: nossos filhos, em algum momento, protagonizarão ataques de birra em locais públicos. Basta escolher se a melhor opção será encarnar a Super Nanny ou voltar correndo para casa.
4- Educar não é moleza: damos bronca quando temos vontade de rir, abraçar, afofar e quando gostaríamos de chorar, consolar, ninar.
5- Não é por falta de coordenação, mas incrivelmente passamos a morder a língua constantemente, permitindo o que em hipótese alguma era cogitado antes de resolvermos desconstruir na prática os comerciais de margarina.
6- Às vezes cansa. Dá vontade de passar uma semana sozinha em Paris, sem qualquer obrigação, tomando champagne às três da tarde. Pode cansar sim, ninguém é uma mãe pior por causa disso. Paris desacompanhada já é bem mais complicado.
7- Lembra daquelas mulheres mais velhas que adoravam falar de casa, rotina e filhos? Então, somos elas.
8- Não falta gente acreditando que sabe fazer qualquer coisa de uma forma melhor que a nossa quando o assunto é cuidar de filhos. O negócio é ignorar, afinal de contas, apenas os nossos beijos conseguem curar os machucados que eles têm na vida. Bem, ao menos enquanto forem crianças.
9- A gente se acostuma com a vida de cabeça para baixo e percebe, na verdade, que ela fica incrível sob esta perspectiva.
10- Tudo, tudo passa. E nos damos conta de que a pena é que passa rápido demais.