Quando
se está tomando um caminho novo, ter dúvidas é normal. E a dúvida é
útil porque serve para esclarecer e averiguar com mais informações e
reflexão a situação na qual nos encontramos e o que temos à disposição.
Lidar com a dúvida, porém, não é tão simples. Por um lado, ela parece
ser racional, exigindo raciocínio e informações para ser resolvida. Por
outro, ela pode se tornar uma espinha no pé que impede o caminhar. Isso
acontece porque por trás da dúvida se esconde outra questão, mais
séria. Digamos, por exemplo, que temos a dúvida em relação a qual
caminho tomar, se o da serra ou aquele da beiramar para chegar em
determinado lugar. Não sabemos qual é mais rápido e o mais seguro numa
determinada hora do dia. Uma vez que juntarmos as informações sobre
distância, trânsito e condições da rua, sobre experiências passadas e
parecer dos outros, a resposta final vai nascer de um ato de fé. Não
temos como ter certeza de nada, portanto, a dúvida não pode nunca ser
extinguida por completo (a menos que não seja uma dúvida matemática!).
Essa fé, por sua vez, é fé na vida, mas também é sobretudo na
fé-no-que-se-sente-da-vida. A fé na vida é mediada pela nossa percepção
dele, por nós mesmos, ou seja, pela fé que temos em nós mesmos. Enfim, a
confiança que depositamos em nossas percepções (internas e externas)
está ligada à nossa autoestima.
Ao focar na busca por certezas e
seguranças, estamos traindo nossa baixa autoestima e, num círculo
vicioso, alimentando a própria dúvida. Como não há certezas absolutas
fora as equações numéricas, procurar certezas eleva automaticamente o
grau de nossa insegurança, além de nos iludir. Mascarados de
racionalidade, bom senso e cautela, os discursos da dúvida cozinham no
fogo sempre aceso da falta de confiança em si, no que se sente, no que
se pensa, no que se quer e no como se faz. Ou seja: na baixa autoestima.
Como é, então, que se tomam as decisões mais difíceis? Uma vez que a
razão fez seu dever de casa – o que é importante – tendo esclarecido
tudo o que estava ao seu alcance, tomar a decisão nasce de algo
irracionalmente positivo que move (ou não) nossas pernas e nos leva
adiante (ou nos mantém firmes), fiéis ao que nosso ser sente como
verdade. E as coisas acontecem. Conforme as dúvidas são enfrentadas
racionalmente no sentido de atraírem atenção para um determinado tópico
que necessita de aprofundamento e reflexão, na pessoa com boa autoestima
vai ao mesmo tempo sentindo crescer um sentimento de confiança como
tendência para determinada escolha. E o que ela faz? Ela segue, alegre.
Quando se encontra o caminho surge junto o sentimento de alegria. O ser
(o Si-Mesmo junguiano) está feliz.
Mas a mente pode continuar
perturbada, torturada pela dúvida e aí o sentimento de alegria é
criticado como leviandade e, portanto, sufocado. A pessoa volta à estaca
zero e diz-se que está empacada. Geralmente, ela permanece assim, até
um novo ciclo da vida impulsionar a tentar novamente dar o salto de
confiança. Às vezes, demora anos. As questões externas e objetivas são
somente a ponta do iceberg. O verdadeiro problema reside debaixo d’água,
naquilo que está inconsciente a pessoa.
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