Hoje amanheci com passarinho cantando. Pois é, ainda tenho o privilégio de ouvir esse canto na Torre, onde moro há mais de vinte anos. Além disso, tem árvores centenárias na minha rua (algumas tombaram ao longo do tempo, de velhas ou mal cuidadas, coitadas, também têm seu tempo de vida...). Consegui o replantio de quatro, que agora observo crescerem da janela do meu quarto. Vocês estão sentindo como está quente no Recife, não é? Uma árvore frondosa vale ouro! Um caminho fresquinho é prêmio! E um roteiro agradável, é bálsamo! Quando caminho pela minha rua é pelas sombras que sigo. Adoro onde vivo, por causa disso e porque fica perto do Rio Capibaribe e do Parque da Jaqueira. Vou sentir saudades se um dia me mudar...
Também adoro a minha ‘cozinha americana’ – de onde vejo a família vendo tv, curto os meus dvds e as visitas que me dão prazer. De um bom tempo pra cá, cozinho com muito gosto, pois na cozinha chega um ventinho bom, que vem da janela de onde ‘imagino o mar’ – que antes de tanto edifício, daqui de casa se via; ao longe, tá certo (avistava, é ainda mais correto), mas até o cheiro eu sentia... Este prazer gastronômico-familiar foi potencializado, recentemente, graças às leituras de dois livros (duas-delícias), escritos por uma chef de cozinha. Eles trouxeram novos prazeres e novos temperos a minha vida e a minha comida, e um desejo renovado de voltar à Itália... Ai, como é gostoso erguer ‘novos castelos , imaginar novas situações e me mover com vontade (eu me digo e repito, com V maiúsculo) em direção aos meus sonhos...
Voltando aos passarinhos, às árvores e à comida – com todos os sentidos e significados que as palavras encerram – tudo isso é apenas para compartilhar com meus leitores fieis (a família, em primeiro lugar; e em especial, com as amigas-leitoras-fieis-incentidavoras) sobre coisas simples, que merecem ser vividas e dependem unicamente de nós.
E como às vezes nos esquecemos de prestar atenção em cenas do cotidiano, aqui estou para comentar. Será que você olhou para a última lua cheia? Será que viu um bom filme ultimamente? Tomou sorvete na Santo Doce? Caminhou à beira-mar? Sentou-se pra conversar com alguém querido num lugar aconchegante? Faço sempre essas coisas, são coisas assim que me confortam e me animam, me alegram e me encantam... No pano de fundo, o que há de bonito nos que amo e de mais belo naqueles com quem convivo. E bem alto, no teto da minha imaginação, luz e brilho – pois de que adiantaria viver se não fosse também por isto?
Assim sendo, lendo e vivendo, dou graças-a-Deus e graças- a-mim-mesma. Vou em busca e vou à luta. Eu me exponho e persigo, gosto e desgosto, tento e desisto, rio e choro, perdoo e abraço... Frequento a cozinha e salas de cinema. Respiro pela vida afora e relaxo num quarto de parede vermelha. Como com os olhos a beleza do mundo. Cuido das mãos como quem lava roupa em beira de rio e escreve belos poemas – de mim, como os anjos velam pelos inocentes e como os rebeldes clamam e reclamam os seus direitos.
De longe-perto cuido das crias e de perto-e-longe aceno para o possível e bebo do agridoce. Enfeito a sala com quadros de ‘janelas e portas abertas’ e me olho no espelho – reconhecendo as rugas e apreciando minhas histórias.
Recife, 27 de janeiro de 2011, quinta-feira.
Jussara Leite
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