"Sou antiga. Não é o meu espírito que me diz isso, nem as roupas que uso, nem a forma como eu penso. O que garante a mim, e a todos nós, uma passagem de ida sem volta para a terra das pessoas e dos legumes passados do ponto é o acervo de quinquilharias idosas que nós encontramos entocados em algum canto da casa quando resolvemos fazer o famoso inventário daquilo que pode ser jogado fora. Objetos esquecidos numa estante, num vão de de armário, são mas eficientes para cronometrar nossa passgem por essa vida do que um álbum de fotografias, São mas simbólicos, mas dúbios, mas reticentes. A trimensionalidade da foto, nos joga ao passado como se estivéssemos em teletransporte. Sensação indescritivel é procurar uma bolsa num maleiro empoeirado, tateando no escuro, e de lá sair com o primero coelinho de pelúcia da sua filha, que hoje já tem idade para lhe dar um genro!
Em principio, sou contra a extirpação radical dos componentes que um dia lhe cercaram, que você nem lembra porque comprou mas que, certamente, já lhe pareceram belos, úteis belos ou divertidos. Sempre me arrependi das coisas que, num ímpeto de saneamento, resolvi descartar, e sempre olho com resentimento para aquelas que não me servem mais e , ainda assim , não consigo reunir coragem suficiente para jogar no lixo.
Nesta última categoria, pelo que pude constatar na inspeção mais recente, está um jogo de louça da coleção que a marca Marinex tornou bastante popular nos anos 80, década em me casei pela primeira vez, Duralrx, chamava a dita cuja e não poderia haver nome melhor escolhido, E#m latim, significa lei dura.
Lá se vão 23 anos e as peças estão intactas. Não estou falando de um prato ou dois, mas de praticamente a coleção completa, com " xicrinhas", xicaras grandes, pires, prato de sobremesa, prato fundo e prato raso. não suporto mais olhar para aquele amontoado de superfícies de vidro na cor âmbar, As coisas mudam. Me lembro com clareza que ao ganhar a coleção, pensei " Que maravilha" Quase dou uma festa de boas vindas para aquele produto altamente tecnólogico para a época. Hoje, penso que foi um gênio da engenharia química a serviço do mal quem surgiu com a idéia de uma louça que praticamente não se desintegra: raramente quebra, não risca, não trinca, não desbeiça, não estoura em altas temperaturas e não cria perninhas para sair andando e nunca mais voltar. Não é da ordem natural das coisas que uma louça sobreviva mais tempo que um casamento. Não está direito que ela comtemple a minha juventude e maturidade sem uma falha que seja,. Não por excesso de zelo, mas por força do seu DNA. Louças - e casamentos- quebram por varios motivos, um deles é a necessidade, humana e premente, que temos de renovar. Tenho quase certeza que quando meu corpo virar cinzas, minha casa não mas existir, como na música de Chico Buarque, escafandristas virão e não encontrarão mais nada da minha passagem sobre a Terra, mas acharão os resquícios desse momento histórico, quando as pessoas comian em objetos feitos de vidros que vieram do espaço sideral. Espero que nenhum deles tenha a brilhante idéia de levá-los para casa. A maldição retornará.
E é justamente a mudança de pespectiva em torno de uma coleção Duralex que motiva esta crônica. Ao recebê-la, a promesa de etenidade era a razão da felicidade. Assim como acontece com os casamentos, nimguém nos avisa que "para sempre" pode ser tempo demais. O que antes era encantamento pode virar tédio, Vivo com meu duralex a relação mas contínua, sólida e aborrecida que jamais experimentei. Sempre que empilho peça por peça na minha frente, com o firme propósito de arremesá-las no inferno, uma cukpa ancestral me consome: que espécie de pessoa sou eu que vira a cara para a eternidade? Eu e meu Duralex vivemos um casamento em declínio. Se , antes, tudo o que ele servia eu achava lindo, hoje acho que aquela maldita cor âmbar deixa tudo o que comida com cara de Bonzo. É justamente o que eu dizia antes: para sempre é tempo demais."
Em principio, sou contra a extirpação radical dos componentes que um dia lhe cercaram, que você nem lembra porque comprou mas que, certamente, já lhe pareceram belos, úteis belos ou divertidos. Sempre me arrependi das coisas que, num ímpeto de saneamento, resolvi descartar, e sempre olho com resentimento para aquelas que não me servem mais e , ainda assim , não consigo reunir coragem suficiente para jogar no lixo.
Nesta última categoria, pelo que pude constatar na inspeção mais recente, está um jogo de louça da coleção que a marca Marinex tornou bastante popular nos anos 80, década em me casei pela primeira vez, Duralrx, chamava a dita cuja e não poderia haver nome melhor escolhido, E#m latim, significa lei dura.
Lá se vão 23 anos e as peças estão intactas. Não estou falando de um prato ou dois, mas de praticamente a coleção completa, com " xicrinhas", xicaras grandes, pires, prato de sobremesa, prato fundo e prato raso. não suporto mais olhar para aquele amontoado de superfícies de vidro na cor âmbar, As coisas mudam. Me lembro com clareza que ao ganhar a coleção, pensei " Que maravilha" Quase dou uma festa de boas vindas para aquele produto altamente tecnólogico para a época. Hoje, penso que foi um gênio da engenharia química a serviço do mal quem surgiu com a idéia de uma louça que praticamente não se desintegra: raramente quebra, não risca, não trinca, não desbeiça, não estoura em altas temperaturas e não cria perninhas para sair andando e nunca mais voltar. Não é da ordem natural das coisas que uma louça sobreviva mais tempo que um casamento. Não está direito que ela comtemple a minha juventude e maturidade sem uma falha que seja,. Não por excesso de zelo, mas por força do seu DNA. Louças - e casamentos- quebram por varios motivos, um deles é a necessidade, humana e premente, que temos de renovar. Tenho quase certeza que quando meu corpo virar cinzas, minha casa não mas existir, como na música de Chico Buarque, escafandristas virão e não encontrarão mais nada da minha passagem sobre a Terra, mas acharão os resquícios desse momento histórico, quando as pessoas comian em objetos feitos de vidros que vieram do espaço sideral. Espero que nenhum deles tenha a brilhante idéia de levá-los para casa. A maldição retornará.
E é justamente a mudança de pespectiva em torno de uma coleção Duralex que motiva esta crônica. Ao recebê-la, a promesa de etenidade era a razão da felicidade. Assim como acontece com os casamentos, nimguém nos avisa que "para sempre" pode ser tempo demais. O que antes era encantamento pode virar tédio, Vivo com meu duralex a relação mas contínua, sólida e aborrecida que jamais experimentei. Sempre que empilho peça por peça na minha frente, com o firme propósito de arremesá-las no inferno, uma cukpa ancestral me consome: que espécie de pessoa sou eu que vira a cara para a eternidade? Eu e meu Duralex vivemos um casamento em declínio. Se , antes, tudo o que ele servia eu achava lindo, hoje acho que aquela maldita cor âmbar deixa tudo o que comida com cara de Bonzo. É justamente o que eu dizia antes: para sempre é tempo demais."
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