Um dia, o homem reparou na cena. Ficou curioso. No dia seguinte,
a mesma coisa.
Certa vez o homem sentou-se ao lado da velhinha e não resistiu:
- Bom dia, desculpe a curiosidade, mas o que a senhora está
jogando pela janela?
- Bom dia, respondeu a velhinha. - Jogo sementes.
- Sementes? Sementes de que?
- De flor. É que eu viajo neste ônibus todos os dias. Olho para fora e a estrada é tão vazia.
E gostaria de poder viajar vendo flores coloridas por todo o caminho. Imagine como seria bom.
-
Mas a senhora não vê que as sementes caem no asfalto, são esmagadas
pelos pneus dos carros,
devoradas pelos passarinhos. A senhora acha que
essas flores vão nascer aí, na beira da estrada?
- Acho, meu filho. Mesmo que muitas sejam perdidas, algumas certamente acabam caindo na terra e
com o tempo vão brotar.
- Mesmo assim, demoram para crescer, precisam de água.
-
Ah, eu faço minha parte. Sempre há dias de chuva. Além disso, apesar
da demora, se eu não jogar as
sementes, as flores nunca vão nascer.
Dizendo
isso, a velhinha virou-se para a janela aberta e recomeçou seu
"trabalho". O homem desceu logo
adiante, achando que a velhinha já
estava meio "caduca".
O tempo passou...
Um
dia, no mesmo ônibus, sentado à janela, o homem levou um susto, olhou
para fora e viu margaridas
na beira da estrada, hortênsias azuis,
rosas, cravos, dálias. A paisagem estava colorida, perfumada e linda.
O homem lembrou-se da velhinha, procurou-a no ônibus e acabou perguntando para o cobrador, que conhecia
todo mundo.
- A velhinha das sementes? Pois é, morreu de pneumonia no mês passado.
O
homem voltou para o seu lugar e continuou olhando a paisagem florida
pela janela. "Quem diria, as flores
brotaram mesmo", pensou. "Mas de
que adiantou o trabalho da velhinha? A coitada morreu e não pode ver
esta beleza toda".
Nesse
instante, o homem escutou uma risada de criança. No banco da frente,
um garotinho apontava pela janela
entusiasmado: Olha mãe, que lindo,
quanta flor pela estrada. Como se chamam aquelas azuis?
Então,
o homem entendeu o que a velhinha tinha feito. Mesmo não estando ali
para contemplar as flores que
tinha plantado, a velhinha devia estar
feliz. Afinal, ela tinha dado um presente maravilhoso para as pessoas.
No dia seguinte, o homem entrou no ônibus, sentou-se numa janela e
tirou um pacotinho de sementes do bolso.
"Se
não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não houver flores,
valeu a sombra das folhas.
Se não houver folhas, valeu a intenção da
semente."
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