"Ah, ser mãe é difícil; não existe filho que não tenha dito um dia - ou pelo menos pensado - "não agüento minha mãe", e o pior: com toda a razão. Há coisas a serem evitadas, pra que eles nos odeiem o menos possível. Toda mãe tem vontade de telefonar para o filho pelo menos duas vezes por dia. Meu conselho: não telefone.
Deixe seu filho em paz, mas esteja sempre à disposição, a qualquer hora do dia ou da noite, pra ouvi-lo reclamar do trabalho, da mulher, do filho que ele descobriu fumando um cigarro ou coisas do gênero.
Quando ele disser que vai viajar, não pergunte, jamais - jamais - o dia em que voltará. Se não resistiu e perguntou, não telefone pra ele no dia da chegada, antes de ele ligar, ou vc corre o risco de ser vítima de alguma atrocidade, e todas somos; ou não?
A mãe ideal é aquela que não dá palpite sobre nada, a não ser quando consultada, e mesmo assim, tomando o maior cuidado com o que vai falar.
Se ele se queixar da mulher, não aproveite pra dizer tudo o que está atravessado na sua garganta, desde o dia em que ele te abandonou por ela.
Ouça tudo, mas fique muda, porque eles vão fazer as pazes, e vai sobrar pra quem?...
Não tente seduzir seu filho com propostas do tipo:
"Domingo vou fazer aquele cozido que você adora, quer vir almoçar?"
Se quiser ser mesmo uma mãe maravilhosa, mande levar na casa dele aquele bolo de laranja feito no tabuleiro, com cobertura de açúcar e limão, mas não telefone pra saber se ele gostou.
Quando ele ligar - se ligar - pra dizer que adorou, não peça o tabuleiro de volta; esse, nunca mais.
Tem hora pra tudo na vida, inclusive - e principalmente - pra mãe.
Dê um tempo: ninguém suporta ser tão fundamental à felicidade do outro, como as mães costumam deixar claro.
É verdade, mas nem todas as verdades precisam ser ditas.
Quer saber o que é uma mãe confortável?
É aquela que tem vida própria: ou joga pôquer e ninguém vai tirá-la da rodinha de sábado, ou tem um namorado que não vai deixar, nem morta, pra cuidar dos netos, ou tem um gato que não pode ficar sozinho.
É claro que ele vai reclamar que não conta com você pra nada; vai ser acusada de ser egoísta, mas, se pudesse escolher entre uma mãe que sufoca e a que vive e deixa viver, sabe qual ia preferir?
Pois é, isso mesmo.
Goste dele mais do que tudo neste mundo, mas não diga nada.
E não fique triste ao constatar que ele se importa mais com seus próprios filhos do que com você: a vida é assim, e o amor de cima pra baixo - de mãe pra filho - é muito maior do que aquele de baixo pra cima - de filho pra mãe.
Ele também vai ficar triste quando perceber um dia, já avô, que seus filhos gostam muito mais dos seus próprios filhos do que dele, o que é natural.
E isso não é bom nem ruim, nem justo nem injusto: apenas é."
(Danuza Leão)
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