sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Desencantar é preciso....

A questão é: como saber a hora de encerrar os nossos ciclos pessoais? Quando saberei se devo mesmo abandonar aquele trabalho que me esgota completamente? Aquele relacionamento que já não faz as estrelas dos meus olhos se acenderem? Aquele curso que eu insisto em levar adiante sem paixão? Aquele “caso” que tem mais jeito de des-caso que qualquer outra coisa?
A gente vive ouvindo (e repetindo) sobre a importância dos ciclos.
Na bíblia inclusive tem uma passagem linda sobre isso, nos Eclesiastes: “há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de dançar; (...) tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz."
Muitos dos ciclos independem de nós, porque são regidos pelas sábias mãos da Natureza, do Destino, do Barba (meu jeito carinhoso de me referir a Deus. Acho “Deus” muito sério...), do Universo, dos Oráculos, ou seja lá o nome que cada um dá às forças invisíveis que organizam o mundo. E isso é bom, porque nos poupa de qualquer esforço e até mesmo da responsabilidade pelas mudanças ao nosso redor. Podemos ficar lá, confortavelmente sentados em nossos sofás, assistindo nossas séries no Netflix, tomando chá e tá tudo certo: o “mistério da vida” se encarrega de abrir e fechar as portas pra nós, sem que tenhamos de manejar qualquer maçaneta ou lidar com as possíveis dobradiças enferrujadas pelo tempo.
Algumas portas, porém, dependem totalmente da nossa ação para se abrirem ou se fecharem. E aí não tem zona de conforto que dê jeito: normalmente precisamos nadar contra a maré, criar disposição hercúlea, arcar com consequências doloridas.
E a grande questão é: como saber a hora de encerrar os nossos ciclos pessoais? Quando saberei se devo mesmo abandonar aquele trabalho que me esgota completamente? Aquele relacionamento que já não faz as estrelas dos meus olhos se acenderem? Aqueles “amigos” por conveniência, que não acrescentam beleza na incrível arte de (con)viver? Aquele curso que eu insisto em levar adiante sem paixão? Aquele “caso” que tem mais jeito de des-caso que qualquer outra coisa?
Bem que podia existir um abracadabra instantâneo, capaz de indicar os momentos dos nossos pontos finais. Mas não tem. E coragem sozinha não segura a biela quando as consequências chegam. Quando as contas chegam. Quando as solidões – e elas são tantas... - chegam. Quando o céu escurece. Quando você precisa criar um monstrinho imaginário chamado Martino pra conversar à noite, depois de chegar em casa e fechar a porta – literal e simbolicamente (porque sim, esta é uma das portas que o tal “mistério da vida” não consegue fechar por conta própria).
A coragem precisa estar acompanhada. Uma coragem sozinha não faz decisão. Não sei se os acompanhamentos da coragem funcionam ao estilo Outback: uns preferem batata frita, outros preferem cebola e outros preferem legumes – apesar de eu achar que legumes não combinam taaaaaanto assim com Outback. Mas ok, o acompanhamento é pessoal e intransferível.
A minha coragem, por exemplo, precisa sempre de dois acompanhamentos: de uma lista objetiva e de desencanto.
A lista objetiva pode demorar pra ficar pronta. São páginas e páginas de um diário, dias e noites pesando pacotinhos emocionais na balança do coração, horas e horas de conversa séria – com a mãe, com a tia, com as irmãs, com o Martino, com os amigos mais próximos e, acima de tudo, consigo mesmo. Mas depois de todo esse processo de maturação, geralmente a lista objetiva vira um instrumento bem confiável de decisão. Quase um “plano de negócios” pra vida – pra quem tem essa mania de racionalizar tudo como eu. Ou de pelo menos tentar, porque nem sempre o coração sai do meio do caminho.
O desencanto já é mais lento. Porque o irmão gêmeo dele, o encanto, é otimista demais. E no palco da decisão só cabe um por vez: pro desencanto entrar, o encanto precisa sair. Só que o encanto é um cara insistente! Ele vê que os passos estão desalinhados, ele vê que as estrelas dos olhos estão desbrilhando, ele vê que a alegria está esquecendo de chegar... Mas ele acha que é só um dia, só uma semana, só uma coincidência, só uma fase; que logo tudo se alinha, tudo se acende, tudo se achega. Ele tenta usar a balancinha emocional, mas acaba confundindo as medidas de cada prato (o encanto nunca é bom com coisas práticas) e ajusta um lado em quilo, outro lado em arroba. E ainda assim teima em dizer que o equilíbrio que ele enxerga na balança é a realidade do mundo. O encanto testa todos os experimentos que encontra. Passa dias e noites misturando cores, texturas e ilusões nos seus tubos de ensaio de esperança. Mas de tão incansável, chega uma hora que ele cansa... É muita espera pra nenhuma chegada. E então aos poucos ele vai desistindo. Desiste das cores, dos brilhos, dos dias e das semanas. E só então percebe o desajuste nos pratos da balança.
Ôrra, encanto! Já não era sem tempo!
O desencanto já estava cansado de esperar nos bastidores. Mas quando ele sobe no palco... Pre-para! Porque, junto com ele, o fim do ciclo chega chegando, delicadamente vestido em seu modelito avalanche. O desencanto, a essa altura, já decorou todas as frases da lista objetiva. Tá com o script afiado, na ponta da língua. Basta dar as mãos à coragem e então, finalmente, o abracadabra acontece! Vai ser duro, vai machucar. A avalanche do fim do ciclo traz consigo apertos impressionantes no lugar em que antes a gente tinha um coração todo cheio de si; traz insegurança, medos de todos os tamanhos e formatos. Mas o desencanto é um mocinho decidido e está sempre lá segurando uma plaquinha que diz SIM, ESTAMOS NO CAMINHO CERTO APESAR DOS PERRENGUES. É preciso ter força – nas pernas, nos olhos, no buraco negro que agora preenche o peito – e caminhar por um tempo em meio ao caos. Tem hora que a estrada parece longa demais, pedregosa demais, triste demais.

Só que em alguma manhã mágica, o sol nasce com força e a gente encontra uma porta no final da trilha. E é ali que nos despedimos do desencanto. É ali que termina o fim do ciclo (sim, porque até os términos precisam terminar de verdade). Basta um agradecimento rápido com aperto de mãos, sem convites para o facebook ou para jantares em casa. O desencanto já está acostumado: o papel dele é apenas fechar a porta que a gente abre no final do caminho de pedras.
E não é incrível essa sintonia entre irmãos? Mal nos despedimos do desencanto e, no primeiro passo porta adentro, lá está ele nos esperando, num palco novinho em folha: o encanto. De braços abertos, sorrisão no rosto, havaianas coloridas nos pés, óculos desalinhados, todo descabelado entre balanças, cores, fórmulas mágicas e tubos de ensaio. E a gente se joga sem pensar! Porque o brilho dos olhos dele é irresistível demais pra gente se lembrar de corações esvaziados, avalanches avassaladoras ou caminho de pedras. A propósito: alguém se lembra de uma porta fechada agora há pouco?
 
Giselle Castro

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A ERA DESCARTÁVEL

"Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.” A frase do sociólogo polonês Zygmunt Bauman resume com brilhantismo a vida do homem na pós-modernidade ou como ele mesmo prefere, modernidade líquida, posto que a fluidez das relações exige que estejamos em constante mudança.
Sendo assim, vivemos sob a égide da velocidade, ou seja, toda relação que se proponha a durar não possui espaço no mundo líquido. Em outras palavras, o sucesso está relacionado à capacidade de rotatividade nos relacionamentos, isto é, a capacidade de trocar de relacionamentos no menor espaço de tempo possível.
Essa característica do homem contemporâneo é o que determina o seu sucesso segundo Bauman. Para ele, o sucesso do “homo consumens” não se caracteriza pelo acúmulo de bens (sejam materiais ou humanos), mas pela maior capacidade em desfazer-se deles.
"É a rotatividade, não o volume de compras, que mede o sucesso na vida do homo consumens."
Posto isso, a de se considerar que a incapacidade em manter relações que apresentamos faz com que não consigamos acumular o menor volume de compras e, assim, transformamos a vida em uma grande rede descartável.
Como não consigo ter um relacionamento que me traga satisfação, tento preenchê-lo como inúmeros relacionamentos efêmeros. Esse vazio também é preenchido com bens materiais, entretanto, como o sucesso é medido pela rotatividade, faz-se necessário que troque constantemente de bens a fim de que mantenha o vazio “preenchido”.
Dessa forma, não existem laços que prendem as pessoas, de tal maneira que a todo tempo, pessoas se desfazem de pessoas, como se estas fossem tão importantes quanto um copo descartável. Aliás, uma pessoa e um copo descartável exercem a mesma função. Em um primeiro momento são úteis para atender uma necessidade imediata, mas logo em seguida, perde-se o valor e ambos são amassados e jogados fora.
Na era descartável, quanto maior for a capacidade de desfazer-se, maior é o sucesso do indivíduo. As relações humanas, assim, se caracterizam por uma imensa fragilidade, em que o valor dos relacionamentos está ligado a um prazo de validade.
Pessoas entram e saem da nossa vida sem que possamos, de fato, conhecê-las. Habituamo-nos a não criar laços, fincar raízes. Temos necessidade de relacionamentos que sejam levados pelo vento, pois só o tempo permite que criemos raízes, e estas parecem inadequadas aos nossos tempos.
Quanto maior a raiz, mais profundo um relacionamento torna-se e, por conseguinte, torna-se mais difícil arrancá-lo. Assim sendo, o valor que o outro nos atribui varia conforme a sua necessidade. Podemos ser essenciais em determinado momento, e noutro ser um estranho.
Esse intervalo entre ser essencial e ser um estranho vem diminuindo com o passar do tempo, uma vez que, como nada é feito para durar, nossas necessidades também mudam constantemente e, por conseguinte, deixamos de ter importância para o outro, pois essa importância é condicionada a necessidade que tínhamos.
O homem contemporâneo parece não gostar de raízes e busca relacionamentos baseados na facilidade de desconectar e jogar fora. Não passamos de meras mercadorias como qualquer outra, estamos ficando mais sozinhos e com relacionamentos frágeis. A era descartável é silenciosa e fugaz, quando menos esperamos, somos jogados fora, dado que nossa utilidade chegara ao fim.
Na modernidade líquida, a velocidade assume o controle e, portanto, não existe tempo para refletir, apenas fazemos e deixamos de fazer, somos importantes e deixamos de ser importantes, sem a menor capacidade de reflexão. A única capacidade que temos é a de desfazer-se e esta qualquer um pode ter.
Qualquer um pode ter, porque é fácil e a facilidade é uma jovem sedutora. Livrar-se do outro quando quiser é sempre mais fácil, o grande problema é que com o passar do tempo as opções vão diminuindo, até que todos sejam descartados e você esteja sozinho. Mas, talvez não haja tanta diferença, afinal em tempos líquidos ou descartáveis,
“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.”

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

COMER, REZAR, AMAR: TRÊS VERBOS PARA SE ENCONTRAR

Há quem diga que Liz Gilbert é uma mulher fria que abandonou o marido para curtir a vida. Há quem diga que ela é uma espécie de Bridget Jones mais magra. Há quem apenas tenha inveja e há quem diga que ela é corajosa e determinada. Eu sou da última opinião. Seria um crime grande demais ser infeliz por toda a vida porque um dia tomamos uma decisão errada ou porque não temos coragem de admitir que nós mudamos com o tempo.
Há pessoas que o entendem como um livro de "auto-ajuda". Não é. Mas e se fosse? Desde quando um livro de auto-ajuda não pode ser bom? Seja pela experiência profissional, pessoal ou pelo trabalho de pesquisa do autor, existem diversos livros que nos apóiam na reflexão de questões importantes. Nem somente de Shakespeare vive o leitor.
Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love, EUA, 2010) é um filme baseado no livro homônimo da jornalista americana Elizabeth Gilbert. A história é verídica e se passa em três países, pelos quais a escritora faz uma jornada a fim de se encontrar.
Eu sou bem democrática em relação à leitura, segundo alguns critérios, obviamente. Confesso que, à primeira vista, o livro "Comer, Rezar, Amar" não me agradou. Talvez fosse o título, direto demais. Porque há pessoas que precisam que o título seja mais intrigante, tenha algo de misterioso, ao estilo Agatha Christie. Eu sou uma dessas pessoas. É claro que é uma questão muito pessoal, mas eu - que tinha acabado de sair de um relacionamento - não estava interessada em ler um livro que me mandava fazer as três coisas que eu queria evitar - por uma questão de autocomiseração ou bom senso, não sei.
Então, algum tempo depois, fui ver o filme, mesmo com aqueles três verbos que prometiam dar-nos a luz para o autoconhecimento. Fomos ao cinema em um grupo de quatro mulheres. Todas solteiras, felizes e querendo comprar alguma passagem para um lugar bem distante daqui. É claro que o filme deu certo conosco. E muito. Não somente pela identificação com a personagem de Julia Roberts, mas pela identificação com a liberdade de comer horrores na Itália sem nos preocuparmos com o ponteiro da balança no dia seguinte.
O filme era exatamente tudo o que queríamos. Largar nossa vida e cair no mundo - de boca - em outras culturas, com a desculpa de que precisávamos achar nosso verdadeiro "eu" e toda aquela conversa típica de divã ao custo de 150 a sessão.
Depois de assistir ao filme, apesar do terrível português de Javier Bardem - que interpreta um brasileiro, atual marido de Elizabeth Gilbert - fiquei intrigada acerca do livro. Pela minha experiência tive certeza de que a versão cinematográfica escondia tesouros importantes da história.
Pois bem, li o livro. E ele consegue ser extraordinariamente encorajador e inspirador. Elizabeth Gilbert é, de fato, uma mulher forte que abriu mão de uma situação estável e conveniente para buscar o que realmente a deixava feliz. E, em um mundo no qual o comodismo e o contentamento são colossais, o livro, no mínimo, nos deixa inquietos.
O que a maioria de nós, certamente, faria - ao descobrir um descontentamento com nossa vida - seria entender isso como uma crise existencial. Choraríamos, faríamos terapia e continuaríamos na mesma. Mas Liz agiu diferente. Estava infeliz, queria mudar. Não queria o convencional - o que todas as mulheres de 36 anos desejam, ou deveriam desejar: filhos, uma casa com jardim e colchas feitas à mão, uma sopa reconfortante que borbulha no fogão - como a própria autora descreve. Não. Seus sonhos eram outros naquele momento. Mas, como dizer tal coisa para o marido e amigos? "A única coisa mais inconcebível que ir embora, era ficar". E assim, Liz Gilbert foi-se.

O roteiro, de uma forma genérica, é bem leal ao livro. Sua jornada começa na Itália, onde Liz rende-se aos prazeres culinários sem culpa. Mais tarde, vai à Índia procurar por alguma espiritualidade e paz interior. Sua viagem termina na Indonésia, onde encontra Felipe, o homem que conquistaria seu coração para sempre.
O livro virou best-seller e o filme foi elogiadíssimo pela crítica e consagra, novamente, Julia Roberts como uma da melhores atrizes de todos os tempos. Com a direção de Ryan Murphy (diretor das séries de TV "Nip/Tuck" e "Glee"), o longa traz no elenco os atores James Franco, Billy Crudup, Viola Davis e o charmoso Javier Bardem. A fotografia é espetacular e a trilha sonora é impecável, com músicas de Neil Young, Eddie Vedder, além da sonoridade brasileira de Bebel Gilberto.
Se deixarmos o preconceito de lado, podemos curtir um bom livro e um bom filme. É uma história inspiradora, a qual permite questionarmos, de maneira particular, nossa própria zona de conforto e até onde iríamos se realmente tivéssemos coragem. As circunstâncias de Liz foram essas, mas existem muitas outras diferentes que têm o potencial de fazer-nos ficar na mesma posição da jornalista.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

ESTOU TE DEIXANDO, MAS EU NÃO SOU O VILÃO DA HISTÓRIA

"Quem toma a iniciativa de romper mal sabe o bem que sua atitude acarretará, oportunizando ao outro a possibilidade de se livrar de um peso que o aprisionava a uma situação vazia de sentido, sem que o percebesse, oferecendo-lhe a chance de partir em busca de ser feliz junto de alguém que o amará de verdade, como todos de fato merecemos, por mais que doa e demore."
    Sempre que ocorre um rompimento amoroso, tendemos a tomar as dores da pessoa que foi deixada pela outra, de quem foi o sujeito passivo da história. Aparentemente, na maioria das vezes, esta sofre mais, pois ainda acreditava na possibilidade de salvação do relacionamento, enquanto o outro desistiu, deixando-a só, como que sem tentar investir em tudo o que já construíram até então.
    Textos, filmes, novelas, vários são os enredos que tratam da viagem dolorosa que implica a perda de um grande amor. Somos inevitavelmente levados a nos compadecer das dores de quem fica, enquanto costumamos retratar quem desistiu como alguém impiedoso, desprovido de compaixão. No entanto, trata-se de uma visão unilateral e muitas vezes injusta de um episódio em que duas pessoas estão envolvidas, sendo que, muito provavelmente, ambas sofrem.
    Nem sempre quem desiste do outro deve ser visto como o vilão da história, como alguém que desiste facilmente das coisas, alguém sem sentimentos, sem gratidão pela entrega alheia, afinal, é preciso coragem para perceber que não vale mais a pena investir em um relacionamento que já morreu de vez e partir em busca de um novo rumo. Desde que a separação não seja pautada por atitudes aviltantes, indignas e desrespeitosas para com o companheiro, às vezes ela é a única saída de uma situação que já não se sustenta e que está trazendo tão somente infelicidade aos envolvidos.
    É difícil acreditar em rompimentos repentinos, sem precedentes que indicassem a falência do relacionamento há tempos. A separação é o ponto culminante de um processo que já vinha sofrendo desgastes e desatenções, mesmo que o casal se negasse a enxergar isso, acomodando-se ao não respirar mais juntos. Tomar a iniciativa de querer quebrar um círculo vicioso e sufocante, nesses casos, é penoso, mas deve ser algo a ser valorizado, pois, na maioria das vezes, está se salvando as vidas que estão em jogo.
    A separação é complicada exatamente porque não envolve somente o casal, mas as famílias e amizades mais próximas também. Criamos vínculos com os familiares e amigos do parceiro e o rompimento acabará fatalmente influindo na dinâmica de todas essas relações. Na maioria das vezes, teremos de nos afastar de ambientes e de pessoas de que gostamos bastante, uma vez que muitos tomarão certamente o partido do ex, obrigando-nos a nos distanciar de lugares e de convivências que nos faziam tão bem.
    O que não podemos é julgar as pessoas, analisando-as confortavelmente acomodados aqui de fora do redemoinho, sem que tenhamos real conhecimento de tudo o que se passava na intimidade cotidiana do casal. Sabemos muito pouco sobre tudo o que foi feito, dito, acumulado naquelas vidas, ou apenas conhecemos a versão de um dos lados, o que nada mais é do que uma visão parcial e subjetiva. Tudo o que concluirmos, pois, nesses casos, também acabará sendo parcial e limitado.
    Quem toma a iniciativa de romper mal sabe o bem que sua atitude acarretará, oportunizando ao outro a possibilidade de se livrar de um peso que o aprisionava a uma situação vazia de sentido, sem que o percebesse, oferecendo-lhe a chance de partir em busca de ser feliz junto de alguém que o amará de verdade, como todos de fato merecemos, por mais que doa e demore. O tempo então se encarregará de mostrar a quem tanto sofreu a dor de ser preterido que nem sempre o lobo é mau, mas sim faz o papel de fada-madrinha, oferecendo-nos uma nova chance de recomeçar, mais seguros, fortalecidos e prontos para receber amor verdadeiro em nossas vidas.
    Marcel Camargo

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

PESSOAS NÃO SÃO RECEITAS, FAZEM RECEITAS



Não enquadre ninguém em molduras achando que aquela pessoa que você conhece em um mês é excelente, porque ela não é. É ser humano, não vai ser perfeito. E não se enquadre ao querer de ninguém, acredito que você possa ser você mesma/o. Mudar certas atitudes, sempre são necessárias, mas mudar a essência, creio que seja muito arriscado.
Muitas revistas, sites, filmes, músicas, nos fazem acreditar que nós é que devemos mudar para conquistar o outro. "Como conquistar um homem em 4 passos." "Guia prático da mulher inteligente." Cada bizarrice! Que acaba tornando muita gente cheff de cozinha. Que fica usando receitar e regras do que fazer e não fazer.
PARA! POR FAVOR! NÃO HÁ RECEITA! Não há um método que faça o outro cair aos seus pés a não ser ser você mesmo. Forçar situações, forçar ser o que não é, engolir "sapos", ficar calada/o diante de uma situação que a desagradou só para ver o outro bem... Não rola! Pessoas não são receitas, se fosse assim seria muito fácil, só seguir o roteiro e estaria tudo resolvido.
Se fosse assim, seria muito fácil se relacionar com o outro e no mundo real não é assim que as coisas funcionam. Se relacionar, seja em família, com parceiros, amigos, colegas de trabalho, tem conflitos, encontros, afeições, identificações ou não. Que você só vai saber se conviver, só se permitir-se a identificar o melhor e o pior no outro. Identificar as suas diferenças e a diferença do outro em relação a você.
Por isso há a frustração, querer que o outro atenda as ações que você mesma criou em sua cabeça, forçar o outro a ser ou fazer o que não quer. Se o outro NÃO QUER, deixa ele não querer, em algum momento você entenderá o por quê de não ter dado certo de acordo com suas expectativas.
Não enquadre ninguém em molduras achando que aquela pessoa que você conhece em um mês é excelente, porque ela não é. É ser humano, não vai ser perfeito. Não enquadre ninguém em receitas que as revistas dizem. Se ele não retornou sua ligação, pode ter sido tanta coisa... Calma! Você e nem ninguém tem o poder de prever o futuro, deduzir... um pouco, mas acertar com exatidão? Só mesmo arriscando, vivendo, sem neuras. E não se enquadre ao querer de ninguém, acredito que você possa ser você mesma/o. Mudar certas atitudes, sempre são necessárias, mas mudar a essência, creio que seja muito arriscado.
E para! O problema não é você, são as circunstâncias que a vida impõe ou que um de vocês impõe. Desencana! Dá ou não dá pra realizar, pra continuar. É SIM ou é NÃO. QUERO ou NÃO QUERO. Simples assim.
Na verdade quem cria as regras somos nós mesmos, que nos submetemos a elas ou que acreditamos nelas. A vida deveria ser vista como algo que não tem volta. Um dia é um dia e outro dia é outro dia. Mas aí você vai me dizer: Ah, mas isso é óbvio! Mas na prática não é não. Não temos o poder de determinar nada, tudo pode mudar, nem tudo depende só de nós.
Se o outro quer, bom. Se não, ótimo. Vida que segue. Por quê insistir?

Daniella Lins

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Felicidade Silenciosa

“Felicidade é discreta, silenciosa e frágil, como a bolha de sabão. Vai-se muito rápido, mas sempre se podem assoprar outras.” Rubem Alves
Certa vez viajei para um paraíso na costa da Austrália, e após alguns dias sem dar notícias, uma amiga me escreveu preocupada: “E aí, não está gostando da viagem?” – não entendendo a pergunta, respondi prontamente, “Poxa, é claro que estou. Da onde você tirou essa ideia?”. Ela então, concluiu sua lógica – “ah, é que você não postou nada a respeito, achei que não estivesse se divertindo”. A lógica dela, que é a lógica da maioria (incluindo a minha), me fez pensar. Estaríamos tão acostumados a propagar nossa alegria, que desaprendemos a reconhecer a felicidade silenciosa?
Felicidade silenciosa. É assim que eu chamo aqueles momentos da vida em que não faz a menor diferença se o celular tem bateria ou não. Sabe? A turma certa, a beira de praia perfeita, o boteco no meio da semana, o sítio com os irmãos, os lençóis cheios de delícias, o livro novo, o dia de ser boa companhia pra si mesma(o). Momentos onde a beleza de ser e estar é tão sublime, que ninguém fora destes pequenos universos precisa ficar sabendo. Talvez ela aconteça por medo de que os holofotes ofusquem quem enxerga estas maravilhas. Ou ainda por conta de quem teme o olho gordo. A minha teoria reina na simplicidade da distração. Felicidade silenciosa ocorre por pura distração. Algo do tipo, “opa, esqueci de viver o online pros outros, enquanto vivia o offline pra mim”.
“Ora, ora, não seja hipócrita!”. Sim. É claro que as fotos da minha viagem estão no meu perfil, obvio que eu faço check-in em lugares bacanas e divido meus momentos de emoção com minha audiência preferida em inúmeras ocasiões. Sem dúvidas sou uma daquelas pessoas que gosta de compartilhar onde foi, o que viu, como viveu. Todo mundo é um pouco assim. Entretanto, verdade também é que nada me distrai mais que a felicidade silenciosa. Eu adoro me perder em ruas que desconheço mundo afora e memorizar os cheiros e as sensações. Eu deixo o celular fora do quarto pra me perder nas curvas de alguém que me tira a atenção. Amo e prefiro contar minhas aventuras pessoalmente, pra aqueles que gostam de me ouvir vendo a emoção nos meus olhos e não no brilho de uma tela. Quando não me encontram no celular, quem me conhece já sabe e canta a pedra “está por aí aprontando alegria e sendo feliz!”. E estão certos.
Felicidade silenciosa para os outros, mas que clama dentro da alma. Eu sei que quando a gente está feliz, quer gritar essa condição aos quatro cantos do mundo e que nos dias de hoje a tarefa de fazê-lo realmente é possível. Preste atenção, entretanto, que a felicidade silenciosa se basta em existir. Sobrevive dos sussurros de amor e juras menos dramáticas. É propagado em grupos menores, entre abraços que falam mais que palavras. Não precisa de conexão wi-fi. Não é transmitida em um tweet e certamente não tem filtros. Ela é pura. Sincera e por vezes tão rara. Então não se deixe distrair pelos gritos de euforia no mainstream da felicidade pública. Preste atenção na felicidade silenciosa. O resto é só barulho.

Antônia Macchi

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

TEM GENTE QUE SUGA, TEM GENTE QUE SOMA

Encontramos muitas pessoas ao longo da vida, algumas permanecem, outras desistem, muitas passam despercebidas. Por mais que tentemos, é inevitável termos de conviver com quem não nos acrescenta, não nos traz ganhos, não nos encanta, seja no trabalho, seja numa roda de amigos. Por isso, temos que ponderar e discernir sempre, tentando gastar nossas energias com gente que vale a pena. Caso contrário, esgotaremos nossas forças e nossa paciência com quem não mereceria um mínimo de consideração de nossa parte.
Existem pessoas com as quais não nos sentimos bem, que nos desconfortam de alguma maneira, algo que não conseguimos explicar. São aquelas que carregam o ambiente, escurecem os humores e parecem levar consigo grande parcela de nossa felicidade. Deixam tudo mais frio, tornam a dinâmica das relações pesadas e impregnadas de mal-estar. Mesmo em silêncio, tal qual ave de rapina, sempre estão à espreita, para impedirem que os ânimos se elevem positivamente.
Às vezes nem se dão conta do quanto são inconvenientes e não queridas, agindo inconscientemente, pois já internalizaram de tal forma essa carga negativa, que são incapazes de perceber o quanto retiram da própria vida e das vidas alheias. Costumam fazer comentários jocosos, debochar de tudo e de todos, prever sempre o pior, qualquer que seja a situação, jamais reconhecendo o valor de nada nem de ninguém.
Infelizmente, a muitas dessas pessoas de nada adiantarão conselhos, reprimendas, ou mesmo enfrentamento de discussões; tudo será em vão. É preciso esquecê-las, ignorar o que fazem, o que falam, apenas tolerando sua presença, caso seja necessário. Isso é sabedoria: saber com quem vale a pena gastar energia, quem merece nosso melhor, nosso carinho e atenção. É preciso filtrar as convivências, de modo a tornar a vida menos pesada e mais prazerosa. Somente assim não adoeceremos e estaremos sempre prontos para os amanhãs.
Bom mesmo é desfrutar os momentos com aquelas pessoas ao nosso redor que fazem toda a diferença em nossas andanças, enriquecendo-nos positivamente e ajudando a vida a ser mais rica e gostosa de ser vivida. É preciso valorizar cada minuto ao lado de quem tem sempre uma palavra amiga, de quem conhece nosso melhor e nosso pior e mesmo assim está ali conosco, de quem nos ama verdadeiramente, sem ressalvas, sem cobranças, sem fingimento no olhar. É por elas que não desistiremos de lutar para alcançar os nossos sonhos, dia após dia.
Não poderemos evitar o encontro com pessoas desagradáveis e desnecessárias em nosso cotidiano, tampouco estaremos livres de nos enganar com elas, decepcionando-nos dolorosamente nesse caminho. Fazem parte do viver tanto as permanências quanto as rupturas com que se constrói nossa jornada, sendo que ambas são essenciais no fortalecimento de quem somos e na solidificação de nossas verdades. Não podemos é nos fechar à interação, por inteiro, com o outro, pois aqueles que ficarem conosco nos farão tão bem, que nenhum mal ao redor será capaz de abalar a felicidade em nosso viver e a certeza de que estamos bem acompanhados.