terça-feira, 27 de novembro de 2012

Uma xícara de café!

Uma xícara de café!

Um grupo de profissionais, todos vencedores em suas respectivas carreiras, reuniram-se para visitar seu antigo professor.

Logo a conversa parou nas queixas intermináveis sobre 'stress' no trabalho e na vida em geral.

O professor ofereceu café, foi para a cozinha e voltou com um grande bule, e uma variedade das melhores xícaras: de porcelana, plástico, vidro, cristal, algumas simples e baratas, outras decoradas, outras caras, outras muito exóticas...

Ele disse:

- Pessoal, escolham suas xícaras e sirvam-se de um pouco de café fresco.

Quando todos o fizeram, o velho mestre limpou a garganta e calma e pacientemente conversou com o grupo:

- Como puderam notar, imediatamente as mais belas xícaras foram escolhidas e as mais simples e baratas ficaram por último. Isso é natural, porque todo mundo prefere o melhor para si mesmo. Mas essa é a causa de muitos problemas relacionados com o que vocês chamam "stress".

Ele continuou:

- Eu asseguro que nenhuma dessas xícaras acrescentou qualidade ao café. Na verdade, o recipiente apenas disfarça ou mostra a bebida. O que vocês queriam, na verdade, era café, não as xícaras, mas instintivamente vocês quiseram pegar as melhores.

Então, eles começaram a olhar para as xícaras uns dos outros.

Agora pense nisso: A vida é o café.

Trabalho, dinheiro, status, popularidade, beleza, relacionamentos, entre outros, são apenas recipientes, que dão forma e suporte à vida. O tipo de xícara que temos não pode definir nem alterar a qualidade da vida que recebemos. Muitas vezes, concentrando-nos apenas em escolher a melhor xícara, nos esquecemos de apreciar o café!

As pessoas mais felizes não são as que têm o melhor, mas as que fazem o melhor com tudo o que têm!

Então lembre-se:

* Viva simplesmente.

* Aja com generosidade.

* Seja solidário e atencioso.

* Fale com bondade.

O resto deixe nas mãos de Deus, porque a pessoa mais rica não é a que mais tem, mas a que menos precisa.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Prazos

Se até quinta ele telefonar, é porque ainda me ama. Se não ligar, acabou mesmo.

Se o sinal continuar aberto até eu passar com o carro, é porque vale a pena ir até a casa dele. Se fechar antes, melhor não ir.

Preciso chegar até a esquina em apenas dez passos. Senão, o dia não vai ser bom pra mim.

Até meia-noite tem que entrar um e-mail dela. Se entrar, é a mulher da minha vida.
Du-vi-do que você não estipule prazos para o imponderável. Para ser franca, não sei se os homens se prestam a este joguinho de azar, mas as mulheres sei que, silenciosamente, a ele se dedicam quase como se fosse uma religião. Eu não fujo à regra. É uma maneira de brincar com o destino, de fingir que podemos delegar nossas mais sérias decisões. Se eu encontrar lugar para estacionar, não vai chover no final de semana. Se o telefone tocar antes das cinco da tarde, trará uma boa notícia. Se a blusa custar menos que R$100, é com ela que vou na festa. Se até seis tocar minha música preferida, todas as minhas dúvidas irão pro espaço!! Ah, se a vida funcionasse desse modo, quanta simplicidade.

Mas a gente dá dez passos e não alcança a esquina, o sinal fecha antes que o nosso carro consiga atravessá-lo, o e-mail dela não chega antes das doze badaladas... e ainda assim a vida vale a pena. Vale a pena justamente porque nada pode ser entregue a presságios: temos que decidir nossas vidas sozinhos, a ação cabe a nós, e se ela nos ama ou não, e se a promoção virá ou não, nenhuma música tocada no rádio acabará com a angústia, melhor ir lá e perguntar.

Tudo bem, mas... se ela estiver com aquele vestido preto, é porque vai rolar. Se o Santos ganhar a partida, a grana que eu tô esperando vai entrar na conta. Se as flores não murcharem até sábado, é porque ele ainda está a fim. Não funciona, mas diverte.

Martha Medeiros

sábado, 24 de novembro de 2012

O significado de Amor Condicional

Amor incondicional significa amor pleno, completo, absoluto, que não impõe condições ou limites para se amar. Quem ama de forma incondicional não espera nada em troca. O amor está em primeiro lugar.
O amor incondicional é generoso, altruísta e infinito. É o típico “amor de mãe”, que é dado livremente, independente do que recebe de volta.
No relacionamento entre um casal, quem tem amor incondicional ama sem ter razões ou pré-requisitos. Dedica-se totalmente à relação, transformando o amor em uma ação praticada a todo instante, de variadas formas. O conceito é semelhante a amor verdadeiro.
Pelo contrário, o amor condicional requer algum tipo de troca, é finito. O amor é dado apenas com base em determinadas condições (conscientes ou não) satisfeitas pelo companheiro.
Para os cristãos, Deus teve um amor incondicional pela humanidade quando entregou Jesus Cristo, o seu único filho, para ser sacrificado. Deus ama de forma incondicional porque ama a todos, independente do amor dedicado a Deus por cada pessoa.
Na perspectiva religiosa também há um apelo para o amor incondicional entre os homens. Para a prática da generosidade e do amor não só ao próximo, mas a todos os seres.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Não era amor...

Se não era amor, era da mesma família.
Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados.
A carência. A saudade. A mágoa.
Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo.
Eu bati a 200 km por hora e estou voltando a pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez.
Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos.
Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas.
Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência?
Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não.
Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.
Não era amor, era uma sorte.
Não era amor, era uma travessura.
Não era amor, eram dois travesseiros.
Não era amor, eram dois celulares desligados.
Não era amor, era de tarde.
Não era amor, era inverno.
Não era amor, era sem medo.
Não era amor. Era melhor.

Martha Medeiros

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O CONTRÁRIO DO AMOR

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que vo...
cê ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

15 coisas que você deveria abandonar para ser Feliz

Há uma lista de 15 coisas que, se você desistir de todas elas, isso vai fazer sua vida ficar muito, muito mais fácil e muito, muito mais feliz. Nós nos prendemos a tantas coisas que nos causam tantas dores, estresse e sofrimento – e ao invés de deixá-las todas irem embora, agora… Ao invés de permitir que nós mesmos vivamos sem estresse e felizes… Nós nos agarramos a elas.
Não mais.
Começando a partir de hoje, nós desistiremos de todas essas coisas que não nos servem mais, e nós abraçaremos a mudança.
Preparado? Aqui vamos nós:

1. Desista da sua necessidade de estar sempre certo

Há tantos de nós que não conseguem suportar a idéia de estarmos errados, querendo sempre estar certos, mesmo sob o risco de terminar grandes relacionamentos ou causar um grande nível de estresse e dor, para nós e para outros.
Isso não vale a pena. Quando você sentir a necessidade “urgente” de entrar em uma briga sobre quem está certo e quem está errado, pergunte a si mesmo o seguinte:
“Eu preferiria ser a pessoa certa ou a pessoa gentil? Que diferença isso vai fazer? O meu ego é realmente grande desse jeito?”

2. Desista da sua necessidade de controle

Esteja disposto a desistir da sua necessidade de sempre controlar tudo que acontece a você e em volta de você – situações, pessoas, eventos etc.
Seja com seus amados, colegas de trabalho ou somente estranhos que você encontra na rua – apenas permita-os ser.
Permita que tudo e todos sejam como eles são e você verá o quão melhor isso vai fazer você se sentir.
“Ao se desapegar, tudo se torna realizado. O mundo é vencido por aqueles que se desapegam. Quando você tenta e tenta, o mundo se torna mais do que vencer.” (Lao Tzu)

3. Desista da culpa

Desista da sua necessidade para culpar outros pelo que você tem ou não tem, pelo que você sente ou não sente.
Pare de dar seus poderes para outros e comece a assumir as responsabilidades da sua própria vida.

4. Desista da sua conversa interior derrotista

Oh, meu Deus! Quantas pessoas estão machucando a elas mesmas por causa das suas mentalidades negativas, poluídas e repetitivas?
Não acredite em tudo que sua mente está lhe dizendo – especialmente se é negativista e auto-destrutiva.
Porque você é melhor do que tudo isso.
“A mente é um instrumento supremo se usada corretamente. Usada de maneira errada, no entanto, ela se torna muito destrutiva.” – Eckhart Tolle

5. Desista das suas crenças limitantes

Sobre aquilo que você pensa que pode ou não pode fazer, sobre o que é possível ou impossível.
De agora em diante, você não mais irá permitir que suas crenças limitantes mantenham você paralisado no lugar errado.
Abra suas asas e voe!
Uma crença não é uma idéia presa pela mente, ela é uma idéia que prende a mente. – Elly Roselle.

6. Desista de reclamar

Desista da sua necessidade de reclamar sobre aquelas muitas, muitas, muuuuuitas coisas – pessoas, situações, eventos que lhe fazem infeliz, triste e deprimido.
Ninguém pode fazer você infeliz, nenhuma situação pode fazer você triste ou miserável a não ser que você permita que isso aconteça.
Não é a situação que dispara aqueles sentimentos em você, mas sim como você escolhe olhar para tudo aquilo.
Nunca subestime o poder do pensamento positivo.

7. Desista da luxúria das críticas

Abandone sua necessidade de criticar coisas, eventos ou pessoas que são diferentes de você.
Nós somos todos diferentes, e mesmo assim somos iguais.
Todos nós queremos ser felizes, todos nós queremos amar e sermos amados e todos nós queremos ser compreendidos.
Todos nós queremos algo, e algo que é desejado por todos nós.

8. Desista da sua necessidade de impressionar os outros

Pare de pensar tão seriamente em ser ago que você não é somente pra fazer os outros gostarem de você.
Isso não funciona desse jeito. No momento que você pára de tentar tão seriamente ser algo que você não é, no momento que você tira todas as suas máscaras, no momento que você aceita e abraça seu eu verdadeiro, você descobrirá as pessoas sendo atraídas por você, sem esforço algum.

9. Abandone a sua resistência à mudança

Mudar é bom.
Mudar irá lhe ajudar a ir de A a B. Mudar irá ajudar você a fazer melhorias em sua vida e também na vida de pessoas à sua volta. Siga seu destino, e abrace a mudança – não resista a ela.
“Siga o seu destino e o universo irá abrir portas para você onde antes só haviam muros.” – Joseph Campbell

10. Desista das etiquetas

Pare de etiquetar coisas, pessoas ou eventos que você não entende. Páre de chamá-los “estranhos” ou “diferentes”. Tente abrir sua mente, pouco a pouco.
As mentes só funcionam quanto estão abertas.
“A mais alta forma de ignorância é quando você rejeita algo sobre o qual você não sabe nada sobre.” – Wayne Dyer

11. Desista dos seus medos

Medo é só uma ilusão. Ele não existe – você o criou. Está tudo na sua mente. Corrija o seu interior e tudo no seu exterior irá se encaixar.
“A única coisa que nós temos que temer é o próprio medo.” – Franklin D. Roosevelt.

12. Desista das suas desculpas

Coloque-as em um pacote e diga a elas que elas estão despedidas.
Você não mais precisa delas. Um monte de vezes nós limitamos a nós mesmos por causa das muitas desculpas que nós usamos.
Ao invés de crescer e trabalhar em melhorar nós mesmos e nossas vidas, nós nos tornamos presos, mentindo para nós mesmos, usando todos os tipos de desculpas – desculpas que 99,9% das vezes não são nem reais.

13. Desista do seu passado

Eu sei, eu sei. É difícil. Especialmente quando o passado parece tão melhor do que o presente – e o futuro parece tão assustador.
Você deve levar em conta o fato de que o momento presente é tudo o que você tem e tudo que você irá ter na vida.
O passado que você agora está buscando reviver – o passado com o qual você ainda sonha – foi ignorado por você quando ele era presente.
Pare de se iludir.
Esteja presente em tudo que você faz, e aproveite a vida.
Afinal, a vida é uma jornada, não um destino. Tenha uma visão clara do futuro. Prepare a si mesmo, mas sempre esteja presente no seu agora.

14. Desista do apego

Este é um conceito que, para a maioria de nós, é tão difícil de compreender e eu tenho que dizer a você que isso era complicado pra mim, também.
E ainda é… Mas não é mais algo impossível.
Você fica melhor e melhor nisso com tempo e prática. No momento em que você desliga a si mesmo de todas as coisas, você se torna muito mais cheio de paz, tão tolerante, tão gentil e tão sereno…
Isso não significa que você não dê o seu amor para estas coisas – porque amor e apego não têm nada a ver um com o outro. Apego vem de um lugar de medo, enquanto amor… Bem, amor real é puro, gentil e sem ego. Onde há amor não pode haver medo, e por causa disso, apego e amor não coexistem.
Livrando-se do apego, você chegará em um lugar onde você será capaz de entender todas as coisas sem tentar.
Um estado além das palavras.

15. Desista de viver sua vida através das expectativas de outras pessoas

Muitas pessoas estão vivendo uma vida que não é a vida delas.
Elas vivem vidas de acordo com o que os outros pensam que é melhor para elas, elas vivem suas vidas de acordo com o que seus pais pensam que é melhor, pelo que seus amigos pensam, seus inimigos, professores, governo e até do que a mídia pensa que é melhor para elas.
Elas ignoram suas vozes interiores, aquele chamado interno… Essas pessoas estão tão ocupadas em procurar agradar a todo mundo, preocupadas em atender as expectativas de outros, que elas perdem o controle de suas próprias vidas.
Elas esquecem o que as torna felizes, o que elas querem, o que elas precisam… E, eventualmente, elas esquecem delas próprias.
Você tem uma vida – essa aqui, agora – e você precisa vivê-la, apropriar-se dela e, especialmente, não deixar que a opinião de outras pessoas distraiam você do seu caminho.

Rodrigo Santiago

sábado, 17 de novembro de 2012

A generosidade é contagiante

Quanto mais caminho, mais percebo o quanto o mundo anda sedento. As pessoas correm, sofrem, se desesperam e continuam buscando a felicidade como se essa fosse apenas uma miragem nesse imenso deserto que a vida se transformou.
Há muita gente no mundo, milhares e milhares. Portanto, a solidão continua assolando vidas, maltratando corações que, no fim do dia e das contas acabam desacreditando nas portas que se abrem a elas. Cada qual pensa no próprio eu e todo mundo se isola. Enquanto isso, a vida continua, cresce a indiferença, cresce o desamor, multiplicam-se as depressões e incompreensões.
As pessoas sentem-se vazias e reagem como pessoas vazias. Vazias, pelo menos, de amor e caridade, mas cheias de tristezas e desilusões. Há, portanto, dentro de cada um de nós um poço de possibilidades e compartilhar de si é deixar-se um pouquinho em cada um.
Só não tem nada para oferecer quem possui um coração vazio, não as mãos. E acabar com a solidão de alguém é contribuir para o fim da própria solidão. Oferecer a esperança é dar-se a si uma nova chance, é reabrir portas, é descobrir o novo e entregar-se a ele.
Há melhor presente no mundo que o dom de si? Há coisa mais bonita que saciar o coração de alguém? Devolver a esperança, por menor que seja ela, é dar às pessoas a oportunidade de descobrir o outro lado da vida, aquele que, embora um pouco esquecido, ainda existe.
O dia tem 24 horas e parece muitas vezes que são insuficientes para fazermos tudo o que temos que fazer. Lamentamos a falta de tempo para isso ou aquilo e pensamos que um dia, quem sabe, se atingirmos a bênção da velhice tranquila, poderemos dar um pouco mais de nós aos outros. Quanto engano!
Podemos dar de nós a cada dia e a cada hora, agindo com o coração e tendo uma atitude que nos torna diferentes em qualquer lugar. Pode-se resistir ao ódio por muito tempo, mas quem resiste à ternura, ao afeto, ao amor e à boa-vontade?
Quando as pessoas agirem com menos egoísmo e ao invés de ruminarem a própria infelicidade começarem a agir para o bem do próximo, as doenças da alma começarão a encontrar a cura e o amanhecer terá para cada um de nós um outro rosto, mais sereno, mais amigo e mais esperado.

Letícia Thompson

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A arte de negociar

A arte de negociar; aliás, de saber negociar. Em quase todos os momentos da vida é preciso fazer uma opção, que no fundo não passa de uma avaliação do custo/benefício - e isso nas coisas mais banais. Devo ou não comer esse chocolate, que provavelmente vai me levar a comer mais três, e correr o risco de engordar 2 quilos? Aí, começa a autonegociação: bem, eu posso comer dois e, no lugar da pizza e da cerveja que tinha programado para hoje, comer um pedacinho de frango - sem pele - e um legumezinho cozido. Pronto, está feito o negócio.
Por maior que seja a amizade entre duas pessoas, na hora de ir ao cinema deve-se decidir por um filme, e nunca os dois querem o mesmo, claro. Depois, é a hora de escolher onde irão jantar. Como se vê, numa noite banal, são vários os momentos de negociação - e sem que nada precise ser dito, quem cedeu na decisão do filme vai ter o direito de escolher o restaurante. Ceder - é essa a palavra-chave: é preciso ceder. Mas, falando francamente, seria tão melhor que não fosse e que sempre se pudesse fazer exatamente - e só - o que nos dá na telha. Ou não? Houve um tempo em que tudo era resolvido de maneira mais simples, embora nem sempre justa: decidia quem tinha o poder, isto é, quem assinava o cheque. Mas, depois da moda do politicamente correto, o mais poderoso passou a dar o poder de decisão ao outro - às vezes - para não parecer ser politicamente incorreto. Complicada, a vida.

Digamos que um casal feliz, com tudo em cima, resolvesse programar uma viagem de sonho. Inicialmente o roteiro seria feito a quatro mãos, mas de repente um dos dois quer ir a um lugar que, para o outro, não tem o menor interesse. O stress começa antes da viagem, e egoísta é a palavra mais suave dita no momento de definir os planos. Se um dos dois resolve fazer pé firme, o outro fica injuriado; mas se, por razões estritamente políticas, um dos dois cede - ceder, sempre -, acaba cobrando, de uma maneira ou de outra. Aliás, numa viagem, a escolha do restaurante também é uma complicação, depois é preciso decidir se vão comer peixe ou carne para, conseqüentemente, definir o vinho. Pensa que a vida é fácil?

Se as pessoas fossem um pouquinho mais práticas, podiam combinar assim: quem entende mais de gastronomia decide sempre onde comer, o especialista em cinema escolhe o filme, quem a vida inteira se encantou por música clássica elege os concertos. Cada um cuidaria de seu departamento e o mundo seria um paraíso. Só que ninguém admite que não entende de alguma coisa e aceita delegar a quem tem a vocação, o talento e o conhecimento. Se aceitasse, podia tentar aprender, apesar de a experiência demonstrar que algumas pessoas não saberão, jamais, distinguir um bordeaux de um bourgogne - o que aliás não chega a destruir nenhuma reputação. É difícil negociar; mas é bom saber que quem não negocia está condenado a jantar só, viajar só, viver só, envelhecer só e morrer só. O que, pensando bem, não chega a ser uma má idéia.

Danuza Leão

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Chega de recordações, viva o presente!!

O que fazer dos velhos discos, aqueles que você guardou porque achou que eram importantes – e que trazem, cada um deles, lembranças de momentos vibrantes, como paixões que pareciam de filme francês ou dores de cotovelo inesquecíveis? Naquele tempo tudo era festa, até os sofrimentos por amor. Mas, voltando aos discos: ouvir, nunca mais, pois o toca-discos (esse móvel? objeto?) já pertence à pré-história. Mas eles estão lá, na estante, e é preciso ter nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração, para se desfazer deles. Como nem o porteiro, que sempre resolve esse tipo de problema, tem toca-discos, só mesmo a lata de lixo, que tristeza! Além dos discos, tem as fitas e, além das fitas, os CDs, que depois do iPod fazem parte de um passado remoto.

Quanto maior a quantidade, maior o problema; encarar o passado não é fácil, e sessões de nostalgia costumam terminar mal. Algumas fotos trazem lembranças alegres de tempos felizes que nunca mais. E “nunca mais” são duas palavras difíceis de aceitar – tratem elas de um homem ou de coisas muito mais sérias, como o cigarro que você deixou e que também nunca mais.

Se num dia de chuva der aquela vontade de puxar uma tristeza, pense na noite de ontem, em que você não fez nada de extraordinário além de ver um filme na televisão comendo uma pizza; pois fique sabendo que até esse momento banal faz parte do “nunca mais”. E, se quiser ficar ainda pior, nada como abrir a caixa das fotos: vai ter um belo dia pela frente, e não diga que eu não avisei. O que fazer, afinal, desse monte de coisas que é nossa vida – aliás, foi nossa vida? Se tiver coragem, jogue tudo em um saco de lixo, leve para o sítio e prepare uma bela fogueira. Mas quem consegue? Quem sabe você fica aliviada, leve, achando que se livrou do passado, que a partir dali é só o presente e o futuro. Mas não tenha tanta certeza assim; quem somos nós se não temos passado?

A gente acaba empurrando com a barriga e adiando – quem sabe um dia desses, com um amigo para ajudar, tomando um uísque e ouvindo Roberto Carlos. E ainda tem mais: além dos discos, fitas e fotos, tem os recortes de jornais e revistas. Não é fácil jogar fora o recorte com seu nome publicado pela primeira vez num jornal. Aquela página amarela arrasa, mas lembra o que você sentiu quando viu sua primeira foto numa revista? A vida é mesmo curiosa: tudo o que se guarda é para lembrar, e tem uma hora em que só se quer esquecer, vai entender. E tem as cartas, ai, meu Deus. As de amor, assim como as fotos desse tempo, é de praxe que sejam rasgadas logo que o namoro acaba – e reze para que as que você escreveu tenham sido destruídas, pois, se alguma viesse parar em suas mãos, seria caso de morrer, tal a vergonha.

A natureza humana é espantosa; como as pessoas são diferentes umas das outras. Penso, com inveja, nas que vão às festas do tipo “parece que foi ontem” e nas que se encontram uma vez por ano com as amigas do colégio para falar do passado. E nas famílias que se reúnem aos domingos para almoçar e, depois, olham fotos de viagem, fitas de vídeo feitas nas férias, comentam sorrindo como os netos cresceram e, depois, vão dormir sem nem precisar tomar tranquilizante, na mais completa paz. Elas não sabem quanto são felizes.

Danuza Leão

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Vende-se Tudo!!!

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:  - Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
 - Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Àsmvezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material.
Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile.
Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza: "só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir,"é melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.
Felicidade não é o destino e sim a viagem!

Martha Medeiros

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Faz de Conta


Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: FAZ DE CONTA QUE EU TE ODEIO

Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: FAZ DE CONTA QUE EU TE AMO.

Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: FAZ DE CONTA QUE EU DOU CONTA DO RECADO.

Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO QUERO.

Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto:FAZ DE CONTA QUE EU ME IMPORTO.

Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: FAZ DE CONTA QUE EU NÃO SOFRO.

Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: FAZ DE CONTA QUE EU ENTENDO.

Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: FAZ DE CONTA QUE EU COZINHO.

Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy:FAZ DE CONTA QUE NÃO DÓI.
Martha Medeiros

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Manual da mulher separada

Uma mulher tem muitas vidas e alguns maridos. A primeira separação é sempre muito triste; aliás, todas são. Costumam ser de três tipos: ou porque não deu - e se sofre muito; ou porque ele a largou por outra - e se sofre muito; ou porque você o largou por outro - e aí também se sofre muito. A lição que recebi na vida foi: seja independente para nunca precisar financeiramente de marido - nem de ninguém - e para poder dizer não a hora que quiser, a quem quiser. Grande lição, e cumprida à risca.
E você? Passou uns dois anos sem saber se devia ou não se separar. Afinal, não tinha razão grave para tomar essa decisão, mas, de uns tempos para cá, o casamento andava sem graça e estava claro que não era feliz. Sabia que tinha que enfrentar a família, os filhos e o próprio, que ia levar o maior susto. Tinha chegado a hora, e no dia em que ele saiu de casa pensou: "Ufa!" A primeira providência que tomou foi mudar o segredo da fechadura: ex-maridos saem de casa, mas voltam e enfiam a chave na porta (para ver as crianças). Agora é uma mulher livre. Ainda vai enfrentar chantagens e baixarias quando chegar o capítulo separação dos bens, que inclui da tesourinha ao DVD, da cartela de Lexotan aos discos, essas coisas. Ele é capaz de querer dividir até o faqueiro e a louça - afinal, vai ter que montar casa e foi você quem quis se separar. Deixe. Deixe levar o que bem entender para evitar a discussão que ele tanto quer. Deixe pensando na delícia que vai ser morar sem nada e comprar tudo novo aos pouquinhos.
A próxima providência é trocar a cama. A nova deve ser menor, mas não tão pequena que não caibam dois, você e o futuro namorado. Quando o amor é novo, a gente gosta de dormir juntinho. Por isso, 1,20 metro de largura é suficiente. Encoste a nova cama na parede, como se fosse um sofá. Quando seu ex vier buscar as crianças para o fim de semana e subir - eles sobem sempre -, vai achar que uma cama menor significa que você encerrou sua vida sexual; mal sabe ele. Eles saem, e você se vê, depois de anos, inteiramente só. E, por mais que ame os filhos, nada melhor do que às vezes passar um fim de semana sem eles.
O que faz uma mulher nessa hora? Uma vodca, claro. Espichada no sofá da sala, você se lembra de tudo pelo que passou para esse momento chegar e poder tomar quantas vodcas quiser, de calcinha e sutiã, ouvindo um CD. Com ele não podia fazer isso, claro.
Chame as amigas e faça um bazar. Venda livros, CD's, tudo que lembre o passado. Pouco a pouco, a casa vai mudando de cara, e é hora de mudar a sua. Um cabeleireiro, imediatamente. Se tem cabelos crespos, alise. Se são lisos, encrespe. Que tal uma mecha cor de alface? Uma tatuagem seria ótimo, só para ter o gostinho da liberdade e, se não for suficiente, um piercing, só para chocar. E um conselho precioso: evite fazer programas com casais amigos. Enquanto não descola um namorado novo, saia com seu amigo gay, aquele que você adora. O único problema é quando estiverem tomando uma bebidinha, um homem se aproximar e você não souber se ele está a fim de você ou de seu amigo. O que vai ser bem engraçado.

Danuza Leão

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O HOMÃO



 Homão é aquele que tem assistido a ascensão feminina nas empresas, na política, na arte, no esporte e tem achado tudo mais do que justo. Nunca li um artigo de um homem reclamando por as mulheres estarem dominando o mundo (não acredito que escrevi isso!). Ao contrário: os inteligentes (e todo homão é inteligente) estão tendo muito prazer em compartilhar seus gabinetes conosco e não choram pelos cantos caso tenham uma chefe mulher (homão chora, mas chora por amor, não por motivos toscos).

Homão gosta de mulher. Parece óbvio, mas há muitos homens (não homões) que só gostam de mulher para cama, mesa e banho. O homão gosta de mulher para cama, mesa, banho, escritório, livraria, cinema, restaurante, sala de parto, beira de praia, estrada, museu, palco, estádio. E, às vezes, pode nem gostar delas pra cama, mesa e banho, e ainda assim continuar um homão.

Homão é aquele que encara parque no final de semana, faz um jantar delicioso, dá conselho, pede conselho, trabalha até tarde da noite, compensa no outro dia buscando os filhos na escola, dirige o carro, em outras vezes é co-piloto, não acha ruim ela ganhar mais do que ele, não acha nada ruim quando ela propõe uma noitada das arábias, recebe amor, dá amor, é bom de contabilidade e sabe direitinho o que significa fifty-fifty.

Homão é aquele que compreende que TPM não é frescura e que reconhece que filhos geralmente sobrecarregam mais as mães do que os pais, então eles correm atrás do prejuízo, aliviando nossa carga com prazer. Homão acha um porre discutir a relação, mas discute. Homão não concorda com tudo o que a gente diz e faz, senão não seria um homão, e sim um panaca, mas escuta, argumenta e acrescenta idéias novas. Homão não fica dizendo que no tempo do pai dele é que era bom, o pai mandava e a mãe obedecia. Homão reconhece as vantagens de estar interagindo com seres do mesmo calibre e não depende de uma arma ou de um carro ultrapotente para provar que é um homão. O homão sabe que não há nada como ter uma grande mulher a seu lado.

Martha Medeiros

DOIDA OU SANTA?



“Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa”.

São versos de Adélia Prado, retirados do poema A Serenata. Narra a inquietude de uma mulher que imagina que mais cedo ou mais tarde um homem virá arrebatá-la, logo ela que está envelhecendo e está tomada pela indecisão – não sabe como receber um novo amor não dispondo mais de juventude. E encerra:...
“De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?”

Adélia é uma poeta danada de boa. E perspicaz. Como pode uma mulher buscar uma definição exata para si mesma, estando em plena meia-idade, depois de já ter trilhado uma longa estrada onde encontrou alegrias e desilusões, e tendo ainda mais estrada pela frente? Se ela tiver coragem de passar por mais alegrias e desilusões – e a gente sabe como as desilusões devastam – terá que ser meio doida. Se preferir se abster de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção. Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso?

Mas vamos lá. Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa.. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe??? Nem ela, caríssimos, nem ela.

Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.

Santa mesmo, só Nossa Senhora, mas cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou? (não se escandalize, não me mande e-mails, estou brin-can-do).

Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar ‘the big one’, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo? Mas, além disso,temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio-pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar uma cafetina, sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada,dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante.Pois então. Também é louca. E fascina a todos.

Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseja mais nada? Você vai concordar comigo: só sendo louca de pedra.

Martha Medeiros